Os 30 anos da Mimulus Cia de Dança foram festejados ano passado com a circulação do espetáculo “Flores de coragem” e da exposição do acervo de figurinos, “Potência de vida”, homenagem à sua fundadora Baby Mesquita (que morreu em maio de 2022), trazendo peças e fragmentos marcantes da história do grupo. "Foi então muito significativo chegar ao final do ano e se dar conta de que esse ciclo terminava exatamente ao se completar 10 anos desde a estreia de 'Pretérito imperfeito', criação inspirada na história da Mimulus Cia de Dança, nas suas memórias e das pessoas que por ali passaram e cruzaram suas histórias com as da companhia”, afirma Jomara Mesquita, coreógrafo do grupo". O espetáculo será apresentado em 14 de fevereiro, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.
• MEMÓRIAS
Nas várias apresentações do espetáculo, realizadas ao longo desses 10 anos, as memórias das pessoas da plateia também se juntaram às da Mimulus. "O público é convidado a escrever em pequenos pedaços de papel fatos marcantes de suas vidas, que nunca irão se esquecer. Tais registros são utilizados durante o espetáculo e são incorporados ao cenário, passando também a fazer parte do mesmo e da história da Mimulus", comenta Jomar. Não houve dúvida, portanto, segundo ele, na hora de escolher qual espetáculo do repertório faria parte da programação da 50ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança em 2025. "Remontar 'Pretérito imperfeito' era quase uma imposição do destino", diz o coreógrafo.
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• AMOR ANTIGO
Aliás, ressalta Jomar, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança também faz parte da história da Mimulus. O coreógrafo lembra que todos os espetáculos de repertório da companhia foram apresentados e reapresentados na programação. "Celebrar os 10 anos de 'Pretérito imperfeito' na 50ª campanha será emblemático para a Mimulus", afirma. "Pretérito imperfeito” faz alusão ao tempo verbal enfatizando a ideia de que as lembranças do passado se reverberam no presente. "A companhia utiliza-se do espetáculo para apresentar suas memórias e lembranças, depois de muito investigar e refletir sobre a sua trajetória", comenta. "Tal tempo verbal é utilizado para a descrição de fatos passados não concluídos inteiramente (imperfeitos). Se o que nunca vamos esquecer se faz presente em nós todo o tempo, o passado não chegou perfeitamente ao seu final. Pois somos feitos pelas memórias, pelos pretéritos não concluídos, pelas lembranças que, como janelas, se abrem,
iluminam e modificam a realidade", acrescenta.
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• MITOLOGIA GREGA
O espetáculo teve como primeira inspiração a leitura do livro “Pequeno tratado das grandes virtudes”, do filósofo francês Andre Comte-Sponville. Caminhou pela mitologia grega, na qual a dança se apresenta como filha da memória. Laboratórios de poesia e de música erudita brasileira contribuíram para que Jomar Mesquita harmonizasse a trilha sonora, a fala, cenário e luz às pesquisas corporais desenvolvidas em conjunto pelos bailarinos.
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• INSTRUMENTAL
A trilha sonora é composta por músicas instrumentais brasileiras, indo do erudito ao popular. "Sobre essa urdidura tênue de lembranças e vestígios, o espetáculo se constrói. Presentifica de tal forma as pequenas e grandes memórias, que ele próprio se modifica em cada uma de suas apresentações. Pela presença do corpo de cada um dos bailarinos, pelas lembranças dos espectadores registradas no cenário, faz-se a história da própria Mimulus. Lembrar-se do que nunca foi esquecido é matéria e consistência do ser humano, que produz em cada geração a repetição e a elaboração das mesmas experiências. Então, a qual desesquecimento amarra-se um laço no dedo?", questiona Jomar.