Passados nove meses do encerramento das atividades (ao vivo) do Skank e já com uma distância do fato, posso dizer que não existe mudança sem sofrimento ou, como alguns preferem dizer, é necessário o “luto”.

O que é mais importante em nossas vidas depois que acontece algo impactante?

Senti não só pelo trabalho, mas também por um problema na família e a proximidade da “finitude”.

Somos seres finitos e nosso ciclo biológico, que se chama "vida", tem começo, meio e fim. Como economista que sou, já calculei quanto tempo de vida útil eu terei pela frente. A conclusão é que tenho a metade do tempo que o Skank esteve nos palcos.

Ai veio a pergunta: o que fazer com este tempo? A que vou me dedicar? O que me faz feliz?
E, principalmente: o que dá tempo de fazer?



A limitação do tempo e o passar dos anos me mostrou que nunca conseguirei fazer tudo o que gostaria. Falo com muita frequência para os meus filhos que a vida é uma sequência de escolhas. Seja no momento de estudar um pouco mais para ter notas melhores – que farão diferença na hora de buscar uma bolsa de estudos – ou ser mais atento com a saúde, em vez de achar que minha mãe era uma chata ao pedir para tomar mais água e dormir cedo.

Viver é um processo que exige coragem. Podemos ficar parados e simplesmente seguir o fluxo da vida, respeitando os estímulos que passam ao nosso redor. É como um rio que vai nos levando para onde ele quiser. Não interessa a sua origem ou classe social. Caso não haja esforço, já existe um ciclo programado para as nossas vidas. Existem as pessoas que te questionam pelo simples fato de você pensar diferente. A ousadia incomoda. A sociedade tem mecanismos que tentam, a todo momento, te deixar nos mesmos lugares e fazer as mesmas coisas.

No meu caso, construir um novo caminho, aos cinquenta e oito anos, não é simplesmente dizer que vou começar tudo de novo como fiz com vinte e poucos anos. Vou arriscar tudo que construí para provar que posso, novamente, ou vou me limitar a fazer somente uma parte por conta da idade?

O processo de finitude acontece em todas as etapas da vida. O ato de nascer é o fim da gravidez, em um piscar de olhos, precisamos aprender a respirar, externar de alguma forma que estamos com fome, frio e entender que precisamos dormir. Mas o que isto significa? Que logo após o final de cada ciclo existe a possibilidade de um novo começo, mas diferente.

Recorro sempre à natureza, onde a beleza de uma flor é consequência de um esforço muito grande para chegar ao momento de exuberância. Após o ápice, as flores caem e começa a preparação para o próximo ciclo.

Podemos apenas reagir aos ciclos naturais, mas temos a oportunidade de pensar e viver diferente. Foi isto que eu fiz ao abrir mão do fluxo natural, mesmo depois de me formar em economia e trabalhar como analista de sistemas. Mudei tudo para realizar o meu sonho de ser artista.

Sou a prova real de que é possível viver de arte. Por isto, digo a todos: realizem os seus sonhos e tracem um caminho para realizar aquilo que desejam. Não existem atalhos e o processo para se chegar ao que deseja é enriquecedor em todos os aspectos. Tenha uma fome constante de conhecimento e, principalmente, aproveite o caminho das conquistas. O que é impossível, sempre pode deixar de ser.
O que precisamos entender é que existe como sonhar mesmo no fim de cada ciclo que se aproxima. Por esta razão, só posso desejar um feliz ano novo pra todos vocês!

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