A indústria da música foi o primeiro setor a se digitalizar totalmente. Durante a primeira década dos anos 2000, tivemos uma transformação gigantesca, passando por diversos modelos e tentativas de bloquear as inovações que estavam acontecendo.


A tecnologia do CD chegou trazendo qualidade e praticidade, mas em poucos anos se transformou num pesadelo com a chegada dos CDs regraváveis e das gravações piratas.


Quase que, ao mesmo tempo, a internet invadiu o mundo com seus compartilhamentos de arquivos, usando o conceito de fragmentação de dados, mais conhecido como BitTorrent facilitando o envio de grandes arquivos e principalmente de músicas no formato MP3.


Conheço um livro ótimo que conta de forma divertida toda essa história, chamado “Como a música ficou grátis”, de Stephen Witt.


Neste ano, a obra virou um documentário, com o mesmo nome, dirigido por Alex Stapleton. O filme traz entrevistas com Dell Glover, que trabalhava na fábrica de CDs da Universal Music, e Klavi, líder de um grupo de pirataria. Juntos, eles vazaram álbuns não lançados de figuras como Eminem, que, inclusive, participa do filme.

 



 


Depois de tantas mudanças e tentativas de criar um modelo saudável para a indústria musical, chegou o streaming, vindo da Suécia, pelo programador Daniel EK, cofundador e CEO do Spotify, que tem dominado alguns países, como o Brasil.


O app, que somou 615 milhões de usuários só no primeiro trimestre de 2024, completou 10 anos de Brasil.


O documentário “Som na Faixa” mostra alguns momentos decisivos da implementação dessa tecnologia, as dificuldades de convencer as grandes gravadoras para o seu uso e a difícil tarefa de respeitar os interesses de todas as partes envolvidas.


Com fácil usabilidade por meio de aplicativos nos smartphones, o conceito foi recebido por todos os amantes da música de maneira relativamente rápida. No Brasil, há 10 anos, as vendas físicas representavam mais da metade do que era comercializado na indústria da música, sendo quase 55% no formato CD. Hoje, isso é apenas 0,6%.


O modelo do streaming é tecnicamente bom, mas financeiramente desproporcional, além de ser pouco flexível.


Hoje em dia, os artistas não conseguem fazer projetos especiais sem depender das grandes plataformas. Não conseguem fazer vendas do seu grande ativo, que são as músicas, durante os shows. Não existe diferenciação de preço para produtos luxuosos e de maior investimento com relação a músicas produzidas em série a baixo custo.


Fazendo uma comparação simples, é como se um carro de luxo fosse vendido pelo mesmo preço de um carro popular.


Lionel Laurent, num artigo para a Bloomberg Línea, no fim do ano passado, explicou bem essa desproporcionalidade em números. No sistema atual do Spotify, 90% dos royalties são destinados a 1% dos artistas mais famosos.


O músico Damon Krukowski, para o jornal The Guardian, detalhou o valor para quem não está no 1%. O máximo que se pode ganhar em royalties da plataforma é US$0,003 dólares por stream.


A situação fica ainda mais difícil para os artistas com o novo modelo de pagamento do app, que não pagará royalties para faixas com menos de 1.000 streams, como falou Damon e foi notícia no próprio The Guardian e na Billboard.


Enfim, o modelo atual do streaming não é tão bom quanto parece, ainda teremos um longo caminho até chegarmos numa solução que atenda a todos os envolvidos.

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