
Um esporte deixado de lado
O que se assiste, nos últimos anos, é o futsal brasileiro em franca derrocada
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O futsal, outrora chamado de futebol de salão, é uma das modalidades esportivas que mais sofreu mudanças de regras na história do esporte. E é, ao mesmo tempo, um dos mais desprezados, para não dizer o mais. Prova disso é que não faz parte da lista de modalidades disputadas nos Jogos Olímpicos.
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E no momento em que é disputada a Copa Gramado, na cidade de mesmo nome, no Rio Grande do Sul, um dos torneios mais tradicionais do país, é inevitável não falar nos caminhos do "esporte da bola pesada", o que aconteceu com ele e o que tem de ser feito para que volte a ser forte mundialmente.
O que se assiste, nos últimos anos, é o futsal brasileiro em franca derrocada. A Seleção Brasileira é octacampeã mundial, embora a Fifa só considere seis desses títulos, a partir do momento em que a entidade passou a patrocinar o esporte, em 1989. No entanto, nos três primeiros mundiais, o Brasil ganhou dois, Brasil'1982 e Espanha'1985.
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Mas a partir do momento em que a Fifa assume o esporte acontece uma série de mudanças de regras que, para muitos – unanimidade dos três mineiros campeões do mundo, Paulinho Bonfim, Walmir e Jackson –, são responsáveis pela perda de interesse pelo esporte no Brasil.
"Temos de parar de enfrentar a Argentina em amistosos, senão eles vão pegar o jeito de jogar. Vão aprender". A frase foi um alerta feito pelo técnico bicampeão mundial, em Hong Kong'1992 e Espanha'1996, o mineiro Eustáquio Araújo, o Tacão, em 1995.
O treinador temia que de tanto jogarmos contra nossos rivais sul-americanos eles acabariam se favorecendo, como realmente aconteceu neste ano, no Mundial. Segundo ele, o Brasil enfrenta um grande problema no futsal, que diz respeito à base. "Temos de recomeçar do zero. A base do esporte, que era escolar, não existe mais."
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O investimento da formação, lembra Tacão, vinha das escolas. "O clube não tem interesse em investir na formação, na descoberta do talento. São raras as equipes que sobreviveram. Antes, a gente até perdia as contas de quantas equipes tínhamos, somente em Belo Horizonte."
O treinador começou a carreira no Colégio Santo Antônio, de BH, que mantinha uma equipe, a mesma escolar, no campeonato de clubes, o Arsenal.
Tacão insiste que o fundamento vem da escola, e que, com o afastamento desta, o futsal brasileiro paga um alto preço. "A Liga Nacional está distante, muito distante da realidade dos clubes. O clube não tem dinheiro para investir. Ou se resgata o esporte através das escolas ou não terá jeito. O Brasil seguirá com muita dificuldade, em nível nacional e internacional."
A verdade é que, nos anos 1970, o Campeonato Metropolitano de Futsal tinha 20 clubes. Eram 17 da capital: Olympico, Arsenal, Barroca, AABB, Atlético, Recreativo, Floresta, Cruzeiro, Comercial, Oásis, Orion, Palmeiras, Pinheiros, Rio Casca, Sparta, América Suburbano e São Lucas.
Isso, em todas as categorias: mirim, infantil, infanto-juvenil, juvenil e adulto. A estes se juntavam três equipes do interior, elevando o número para 20. Eram o Huracán (Sete Lagoas), Milionários (Congonhas) e Estrela do Oeste (Divinópolis).
Havia dois ginásios exclusivos para o futebol de salão, às terças e quintas-feiras, Olympico e Sparta, isso nas categorias juvenil, aspirante e adulto. Do mirim ao infanto-juvenil, os jogos aconteciam aos sábados, nos clubes.
O ex-ala Paulinho Bonfim, campeão mundial com a Seleção Brasileira, em 1982 – também estavam lá Jackson e Walmir –, reforça as palavras de Tacão. "Quase ninguém joga salão (futsal) mais. As crianças, hoje, vão para outros esportes, como skate. Tem videogame e shoppings, celular, computador. Falta também incentivo".
Ele cita outros detalhes que para ele se tornaram um problema para o desenvolvimento do esporte. "Vivemos hoje uma carência de quadras e mesmo de campos de várzea. Essa diminuição do número de locais para praticar o esporte é extremamente nociva. Havia times de futebol em quase todos os bairros de Belo Horizonte. Hoje não tem mais. E que falta faz o Campeonato Colegial."
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.