Ivan Drummond
Ivan Drummond
Repóter de Polícia e Esportes. Participei da cobertura e sete edições dos Jogos Olímpicos, Cobertura Copa do Mundo. Ganhador de dois Prêmios "Esso", em 1985 e 1987. Ganhador Prêmio Nacional Petrobras, com a série de matérias "Hilda Furacão"
HISTÓRIAS DO ESPORTE

Um encontro inesperado no aeroporto de Roma

Hilma respondeu gaguejando. Estava emocionada. Não esperava, nunca, encontrar Pelé, e muito menos conversar com ele

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O ano era 1992. O Campeonato Mundial de Vôlei Feminino foi disputado na Itália. Só que essa competição proporcionou o encontro entre esportistas de duas modalidades. Além do vôlei, o futebol. Vou contar.

 

 

O Minas, um timaço, que tinha sido campeão brasileiro sob o comando do técnico Cebola, era um dos representantes brasileiros. Sob o comando de cebola estavam Hilma, Ana Flávia, Ana Paula, Leila, Márcia Fu e Ida, que seriam medalhistas de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta, quatro anos mais tarde, além de Andréa Marras, Cilene, Kátia, Fernanda Doval, Arlene e Mariana Cenni.

O desembarque do time mineiro foi no Aeroporto Leonardo Da Vinci, em Roma. As jogadoras desceram do avião, pegaram a bagagem e seguiram, em fila, para a alfândega, para serem registradas e terem a entrada no país permitida.

 

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Pois bem, elas estavam na fila da Alfândega italiana, esperando, quando lá no fundo, bem no início do desembarque do grande aeroporto, surge um gordinho, de terno, que vai correndo em direção a elas.

Nas mãos, um passaporte, que quando o gordinho se aproxima, percebe-se que é de um brasileiro.

Faz sinal para que todos se afastem. Vai até o balcão, abre o passaporte, o coloca no móvel e, do outro lado, um homem o carimba. O gordinho se vira, dá dois passos à frente e fica em posição de sentido, exibindo o passaporte como se fosse uma arma, um rifle.

Nesse instante, lá no fundo, no desembarque, avistam-se guardas perfilados. Eram oito, quatro de cada lado. E, no meio deles, um homem. Mas não dava para identificar. Estava longe. Eles caminham na direção da equipe, mais precisamente rumo à saída da recepção internacional do aeroporto.

 

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O homem, protegido pelos policiais, se aproxima e não é que ele é conhecido. Todos acenam para ele. Praticamente parou o aeroporto. As jogadoras estão entusiasmadas, mas espantadas.

Era Pelé. Ele mesmo. O Rei do futebol. O maior de todos os tempos.

A guarda, com Pelé, se aproxima, e ele, ao ver as meninas do Minas, para. A guarda se adianta, pois não esperava pela parada repentina. Foi até engraçado.

Pelé larga esse cortejo policial e se aproxima das meninas. “Vocês são do Brasil. O que vieram fazer aqui? É um time de quê? Pergunta. Mas antes que qualquer resposta seja dada, ele se volta para uma jogadora.

“Você é a Hilma. É um time de vôlei”. Se adianta e vai cumprimentar e abraçar Hilma. Diz pra ela que é seu fã. Hilma explica que trata-se do time do Minas, que vai disputar o Campeonato Mundial de Clubes.

Na verdade, Hilma respondeu gaguejando. Estava emocionada. Não esperava, nunca, encontrar Pelé no Aeroporto de Roma, e muito menos conversar com ele.

Pois Pelé quebra o protocolo. O gordinho de aproxima para devolver o passaporte, mas ele dá um sinal, com a mão, para esperar. Faz questão de cumprimentar as jogadoras, uma por uma. E se despede desejando sorte.

Esse foi o Pelé que ninguém conhecia. Na despedida ainda disse que acompanhava o vôlei e todo esporte brasileiro. Também que, a partir daquele momento, tinha um motivo a mais para torcer pelo título. Ele desejou boa sorte.

O Minas, que chegara como campeão sul-americano e brasileiro, foi vice no Mundial. Perdeu a final para o italiano Il Messaggero Ravenna, por 3 a 0, na verdade, um placar mentiroso, pois o jogo foi equilibradíssimo, com duração de quase quatro horas. Os sets eram ainda de 15 pontos, com tomada: 16/14, 15/13 e 15/12.

 

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Mas as meninas ganharam um outro título, muito maior. O reconhecimento de Pelé, a quem tiveram o prazer de conhecer e apertar a mão. E Hilma ainda ganhou um abraço. 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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