Vinícius Júnior sofreu com atos racistas, mais uma vez, no clássico contra o Atlético de Madrid, pela Copa do Rei, quinta-feira. A torcida do time de Simeone o chamou de “macaco”. A mesma torcida que havia enforcado um boneco, numa ponte em Madri, como se fosse o atacante merengue.
Racismo é um crime nojento, inafiançável, hediondo, cruel. Todos nós temos que lutar contra os racistas, pois entendo que a causa é de todos nós, e não apenas do “povo preto”, como muito bem coloca meu amigo e grande jornalista Paulo César Vasconcelos.
Porém, na sexta-feira, um outro jornalista amigo, Marcelo Barros, fez o seguinte questionamento: “Com tantos jogadores negros no Real Madrid, como Rudiger, Bellingham, Rodrygo, Tchouameni, Camavinga, por que os racistas só implicam com Vini Júnior?”.
Realmente, é um caso a ser pensado. No nosso grupo, passamos a discutir o assunto com mais profundidade e chegamos a uma conclusão, que, em momento nenhum justifica o racismo, pois, como escrevi acima, para mim esse é o pior crime do mundo.
Por que somente com Vini Júnior? Um dos pontos levantados é o fato de ele debochar dos adversários, fazer dancinhas e provocá-los. Repito: nada disso justifica o racismo. Porém, a gente não vê jogadores argentinos, europeus e uruguaios fazerem dancinhas, debocharem dos adversários ou coisa parecida. Eles comemoram um gol como deve ser, respeitando o adversário que o tomou.
Os jogadores brasileiros são reflexo da sociedade que vivemos. Não é culpa de Vini Júnior ou de Neymar. Eles cresceram nesse meio, onde sacanear os outros é o mais “legal”, onde debochar e humilhar tem “valor” para eles.
Não precisamos ir longe. A tal “dança do pombo”, inventada por Richarlison, foi copiada por Tite em um jogo na Copa do Mundo. O treinador entrou na onda de gozar o adversário, se não me engano, os coreanos. Tite, Richarlison e cia “dançaram o pombo”, e a Argentina levantou a Copa do Mundo.
No clássico pela Supercopa, o Real Madrid foi campeão, na Arábia Saudita, vencendo o Barcelona por 4 a 1, com atuação de gala de Vini Júnior, que fez três gols. Ferrán Torres, atacante do Barcelona, disse: “Qualquer hora eu vou perder a cabeça e fazer uma besteira com esse Vini Júnior. Esse cara nos provoca o jogo inteiro”.
Ele não foi racista, mas mostrou que ninguém suporta humilhação. Faz o gol, vai comemorar com seus companheiros, com sua torcida. Pra quê essas dancinhas, esses sorrisos sarcásticos? Antes que algum mal-intencionado diga, ninguém aqui está justificando atos racistas. Pelo contrário, o repudiamos veementemente. Estamos apenas levantando um questionamento sobre o motivo de o Real Madrid ter tantos jogadores negros em seu grupo, e apenas Vini Júnior sofrer racismo.
Acho que a Fifa, Uefa e Federação Espanhola deveriam agir rapidamente, punindo e prendendo por 10 anos os racistas e impedindo o clube pelo qual torcem de disputar competições por um ano. Somente assim poderão acabar com o racismo, com o preconceito.
Sei que o assunto é muito mais abrangente, pois está inserido na sociedade como um todo, mas é preciso um basta, ninguém suporta mais tanta discriminação. Outro dia, no Rio de Janeiro, uma mulher agrediu com uma chibata um entregador negro. Ela foi ouvida na delegacia, alegou problemas mentais e está curtindo a vida. Causou um trauma no rapaz, uma ferida que nunca vai se fechar.
São tantos casos recorrentes que a gente fica perplexo com a falta de punição no Brasil e no mundo. A Justiça dos homens é falha, mas a divina, jamais. Os racistas não irão para o céu. Irão para o inferno e queimarão por lá. Sim, eu acredito em céu e inferno, como católico que sou. É triste, mais uma vez usarmos um espaço para falar de um ato tão covarde.
Aos jogadores brasileiros, vai aqui um conselho: evitem danças, evitem humilhar os adversários. Façam seus gols, comemorem como todos os outros jogadores mundo afora. Provocações não são bem-vindas. Enquanto tivermos comportamentos desse tipo, não ganharemos mais Copa do Mundo.
Para conquistar esse troféu é preciso, além de grande futebol, disciplina, respeito, caráter. O futebol brasileiro e a Seleção não têm um líder em campo e fora dele. Os jogadores são apenas produtos do meio em que nasceram e cresceram. Muitos não têm culpa dos atos que cometem, mas é preciso mudar a postura.
Quando um treinador de seleção faz a “dança do pombo”, num Mundial, a gente percebe que realmente não há comando e que está tudo errado no futebol brasileiro. Que tal começarmos a mudar? E aos racistas, que sejam presos e punidos com os rigores da lei. E que todos nós lutemos contra eles, pois, como escrevi acima, essa luta é de todos nós.