A suposta discussão de um torcedor com Felipão, no desembarque do Atlético, é apenas uma gota no oceano na relação torcida-treinador. É público e notório que não deu liga entre eles. Felipão teve um começo terrível, com 11 jogos sem vitórias, e teve sua saída pedida. A diretoria o segurou, ele deu a volta por cima e levou o Galo ao terceiro lugar no Brasileirão, entrando na Libertadores de forma direta. O começo deste ano, porém, mostra um Atlético pouco criativo, sem variações táticas, tudo do mesmo, embora o clube tenha a terceira maior folha salarial do país e jogadores altamente badalados. Tive uma relação conturbada com Felipão pelas perguntas picantes que eu fazia quando ele era técnico da Seleção Brasileira e pelas críticas que fiz e faço pelos 7 a 1, na semifinal de Copa do Mundo, no Mineirão, aplicados pela piedosa Alemanha, pois os jogadores tiraram o pé e não quiseram meter 12. Curiosamente, além de Felipão, David Luiz, Marcelo, Fernandinho, Paulinho, Luiz Gustavo e Hulk ainda trabalham no futebol brasileiro. Bernard e Oscar, outros dois que participaram daquele vexame, estão chegando.
O torcedor alvinegro espera algo mais de um treinador considerado tão vencedor em sua carreira. E isso não podemos negar. Felipão é o último campeão do mundo com a Seleção, em 2002, e pelo jeito não será superado tão cedo. Mas ele também carrega no currículo a perda da Eurocopa para a Grécia, em Portugal, um grande fracasso, e os 7 a 1. Tem títulos importantes sim, mas essas duas manchas vão acompanhá-lo enquanto for treinador. Aliás, ele já havia se aposentado e voltou atrás, o que é um direito dele. A situação dele é semelhante à de Coudet, que foi confrontado pelos torcedores e a diretoria, que o bancava, o demitiu. Não adianta o novo diretor de futebol, Victor, dizer que “Felipão está prestigiado e que vai ficar”. Somente os resultados dirão isso, ou talvez nem mesmo os resultados, pois, como escrevi acima, a torcida não o quer mais no clube. Pensa em um técnico mais moderno, com conceitos do novo futebol.
Por isso, os técnicos estrangeiros e principalmente os portugueses estão dominando os clubes brasileiros. Desde JJ, que fez trabalho gigantesco no Flamengo e continua a fazer no Al-Nasser, até o grande Abel Ferreira, o melhor que trabalha no Brasil, temos uma geração boa. Entre os brasileiros, destaco Dorival Júnior, Fernando Diniz, Renato Gaúcho e Jair Ventura. O último, merece uma chance em uma grande equipe, novamente. Os técnicos brasileiros são preguiçosos, não inovam e a maioria é tudo do mesmo. Vejam um jogo de uma equipe europeia, não precisa ser de ponta, e vejam o trabalho excepcional que os treinadores fazem. Sabem mudar o esquema tático durante os jogos, sem mexer em uma peça sequer. São estudiosos, fazem curso de especialização na Uefa, enfim, são muito mais bem preparados que os “dinossauros” brasileiros.
Não vou entrar aqui no mérito da discussão de Felipão com o torcedor, pois aeroporto não é lugar de cobrança. Quer cobrar do treinador? Paga o ingresso, vai pra arquibancada e vaia. Com todos os problemas que já tive com Felipão, gosto dele. Sei que ele tem um coração muito bom e é uma pessoa de bem. Ele ficou revoltado com Galvão Bueno pelas críticas feitas nos 7 a 1. O ex-narrador da Globo já tentou reaproximação, mas Felipão não quer. É um direito dele. Porém, depois de tomar de 7 no lombo, em semifinal de Copa do Mundo, em nossa casa, ele queria elogios? Ninguém vai apagar a história vencedora de Felipão, mas também ele não conseguirá apagar a mancha deixada na perda da Eurocopa e nos 7 a 1. Quanto a sua permanência no Galo, vai durar enquanto o torcedor quiser, pois é sabido que no Brasil quem demite e contrata treinador é o torcedor. Neste momento, acho que o melhor é o clima de paz. Felipão conhece os atalhos da Libertadores e em competições desse tipo, é muito inteligente. Joga feio, mas chega.
Fazendo “mea-culpa”
Primeiro foi o presidente do Atlético-GO, Adson Batista, que detonou “empresários, jogadores mascarados e dirigentes fracos, mostrando a lama em que se encontra o futebol brasileiro”. Agora foi o CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, que vê o “mercado brasileiro prostituído”. Temos uma geração de gente séria e nova, comandando os clubes brasileiros, que aos poucos vai expurgando os maus dirigentes e, principalmente, diretores de futebol, que segundo denúncias de alguns jogadores, fazem negociações com empresários, levando comissão na “rachadinha”. Por mais dirigentes sérios no futebol brasileiro.