Tenho alguns grandes amigos que são atleticanos. Nessa semana, conversando com um grande empresário, que comprou um dos camarotes do estádio do Galo, ele me confidenciou: “Comprei o camarote lá e me arrependi. Em vez de virar um caldeirão, o que vejo, a cada jogo, é uma torcida silenciosa, sem vibração e sem o apoio necessário à equipe. O futebol ficou muito caro, e a gente só percebe pessoas com muita grana frequentando o estádio do Atlético. Os verdadeiros torcedores, aqueles que empurram o time, não têm condições de frequentar uma arena com ingressos a preços exorbitantes. E estou falando de torcedores do bem, e não dessas facções que andam matando e morrendo no país”.
Ele tem razão, e eu diria que não é só no estádio do Galo. O futebol está caríssimo no país inteiro, e o fim da geral foi uma catástrofe. Um amigo meu levou a então namorada para assistir a um jogo do Cruzeiro, time dele, no Mineirão. Em determinado momento, ela perguntou o motivo de o cara de amarelo não tocar na bola. Ela não sabia que havia um juiz num jogo de futebol.
O que a gente vê, Brasil afora, são camarotes lotados, com os “torcedores” tomando champanhe e comendo caviar. O futebol, esporte mais popular do planeta e que era a única diversão dos pobres, no Brasil não é mais. Imaginem um assalariado, que ganha R$ 2 mil mensais. Se ele tiver dois filhos e levá-los a apenas um jogo vai gastar, no mínimo, R$ 800. Isso é um absurdo.
Concordo que as equipes precisam faturar para pagar suas contas e fazer contratações, mas é preciso que cada estádio tenha, pelo menos, uns 10 mil lugares a preços populares para o torcedor de verdade. Aquele que empurra o time, que torce como poucos e que, no máximo, vai comer um tropeiro e tomar uma cervejinha. É desse público que as equipes precisam, e é ele quem têm que ter prioridade nos estádios.
O senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, homem que foi fundamental para a aprovação das Safs no país, está agora voltado para um projeto que puna os “bandidos travestidos de torcedores”, para que sejam identificados, presos e condenados de quatro a oito anos de prisão, em regime fechado. Ele e o deputado estadual João Vítor Xavier estiveram juntos em Brasília, nessa semana, e estão acelerando o projeto para que seja aprovado pelo Congresso.
Ninguém suporta mais tanta violência e matança por parte dessas facções, e o objetivo é tirar esses marginais dos estádios ou até mesmo das imediações, e privilegiar apenas os torcedores de bem, os anônimos, que pagam ingressos.
A gota d’água foi mais uma morte, desta vez de um torcedor do Cruzeiro, numa briga, que deixou outros dois feridos a bala, longe dos estádios. Foi um erro da FMF marcar jogos de Cruzeiro e Atlético no mesmo horário, em BH, mas ela não é responsável pelos desmandos, brigas e mortes que acontecem no nosso estado. Essa tragédia das gangues, que vão para “matar ou morrer” como elas mesmas cantam, vem de muito tempo, e a cada semana acontece em um estádio em estados diferentes. Até agora não prenderam nenhum terrorista que jogou uma bomba no ônibus do Fortaleza. Essa impunidade gera mais violência.
Eu tenho uma posição há tempos, na defesa dos torcedores anônimos e do bem. Que se acabe com as chamadas torcidas organizadas, pois são elas que estão acabando com o nosso futebol. Outro dia, o presidente da Raça Rubro-Negra, torcida do Flamengo, estava sendo procurado pela Justiça, com um mandado de prisão. Não foi preso e está aí, participando de entrevistas nas redes sociais. Realmente, não dá para entender. Num dia o cara é procurado pela Justiça, no outro está no Maracanã?
As autoridades precisam parar de enxugar gelo. Um cara que vai a aeroporto, CT na porta da casa de um jogador, para agredi-lo ou xingá-lo, interpelá-lo, num dia de semana, pela manhã ou à tarde, realmente não deve trabalhar. E se não trabalha, vive de quê? É sabido que muitos dirigentes davam ingressos, pagavam salas e celulares para essas facções. Portanto, se isso ainda acontece, eles são responsáveis também pela existência dessas facções.
Os torcedores de bem e a sociedade não suportam mais brigas, mortes e desrespeito. O futebol sempre foi lazer, recreação e emoção com racionalidade. Qualquer coisa que extrapole isso, não faz parte do contexto da sociedade. Pela redução dos preços dos ingressos, por mais espaço nos estádios para os pobres e por penas duras para os bandidos que agridem e matam em “nome do futebol”.