Real Madrid e Manchester City, Ancelotti e Guardiola, e os jogadores deram uma aula do que é o futebol moderno, bem jogado e em busca do gol, terça-feira, no Santiago Bernabéu, diante de 80 mil pagantes. Um colírio para os amantes do futebol. Duas viradas, gol com 50 segundos de jogo e a insistência, de ambas as equipes, pela vitória. Não vimos nenhum dos dois treinadores colocando zagueiros para garantir o resultado na competição eliminatória. Ao contrário, vimos o italiano e o espanhol pondo atacantes ou jogadores ofensivos, pois o 3 a 3 não lhes bastava.
Quando digo que o futebol brasileiro está na lama e anos-luz de distância do europeu, recebo críticas, dizendo que a economia dos países do Velho Mundo é fortíssima e que não há comparação com o Brasil. Sim, sei disso há tempos. Mas nas décadas passadas a economia de lá também era infinitamente superior a nossa, mas nós tínhamos técnicos de verdade, jogadores de alto nível, pelo menos dois craques por posição, e impúnhamos aos europeus e nossa técnica. Nem vou falar em Pelé e Garrincha, mas em Tostão, Nelinho, Reinaldo, Éder, Zico, Adílio, Rivelino e por aí vai. Como diria o saudoso mestre Zagallo: “os europeus tinham que nos engolir”.
Mesmo com os problemas globais, a economia europeia continua forte e seu futebol evoluiu. Nós, ao contrário, involuímos, com técnicos retranqueiros, que pensam em administrar resultados, que “detestam” a tabela, o drible, o toque, o gol. Técnicos que são enaltecidos por uma “legião de imbecis”, como diria o poeta e escritor italiano, Umberto Eco. Não temos mais Telê Santana, Zagallo, Carlos Alberto Silva, técnicos de verdade, que sabiam o que faziam. Tinham os melhores jogadores, é verdade, mas gostavam da arte, do gol. Hoje temos Tite, Felipão (7 a 1), Mano Menezes, coincidentemente, todos gaúchos, da escola de “pega, marca, mata a jogada”.
Você nunca ouvirá Guardiola e Ancelotti usando esses termos, pois o vocabulário deles é sempre em busca do gol, do toque, da tabela, da arte. Esses caras dão aula de bom futebol, de excelência e não se contentam apenas em classificação. Querem dar espetáculo, como deram na terça-feira e o mundo todo aplaudiu.
A resistência da geração Nutella é grande. Ela não viu os grandes gênios da bola e se contenta com vídeos dos ídolos mais recentes. Acha que os estádios cheios, pela carência de eventos é prova de alguma coisa. Ledo engano. Jogos com bola rolando menos de 50%, 55 faltas por jogo, arbitragens péssimas, acusações de corrupção por parte do dono do Botafogo, dirigentes que não conseguem se unir e criar uma Liga, existência de federações, para eleger o presidente da CBF. Se é isso que a geração Nutella gosta, é exatamente isso que clubes, jogadores e dirigentes proporcionam.
Espetáculos medíocres, sem contar a violência das chamadas “torcidas organizadas”, algumas, financiadas pelos clubes, como já foi tornado público. É isso que chamam de futebol brasileiro? Me desculpem, mas eu e a minha geração vivemos a fase de ouro do nosso futebol, que nenhuma economia do mundo, clube ou seleção conseguiam nos vencer. Sempre fomos uma economia em frangalhos, país da corrupção, roubalheira e onde leis não são cumpridas, mas tínhamos orgulho de bater no peito e dizer que éramos os melhores do planeta bola. Esse orgulho acabou.
Contra fatos não há argumentos. Os números e os jogos estão aí para provar o que digo. O que podemos fazer para melhorar? Acabem com as federações e os campeonatos estaduais. Que a CBF cuide somente da Seleção Brasileira e os clubes dos seus próprios destinos, criando a Liga. Que os donos dos clubes (SAFs) ponham gente qualificada nas divisões de base, celeiros de grandes craques do nosso futebol, no passado.
Chega de colocaram gente que de bola nada entende, que quer aparecer e se torna conhecido no mundo do futebol, vaidosos que são. Chega dessa gente hipócrita, que se acha dona do clube, quando sabemos que a razão de ser de um clube de futebol é a sua torcida. Por mais espetáculo como Real Madrid x Manchester City, para que os jovens brasileiros não se contentem mais com a lama que virou o nosso futebol. Ainda há tempo de consertarmos o estrago, antes que o pouco que restou seja destruído pelos incompetentes dirigentes que comandam o futebol brasileiro. Viva Ancelotti e Guardiola, técnicos de verdade, que privilegiam a arte, o drible, o toque, o gol, que são essências do nosso futebol, apesar de os técnicos brasileiros pensarem o contrário.