O Cruzeiro perder e ganhar num clássico contra o Atlético é absolutamente normal, pois são os maiores rivais no Estado. O que não é comum é o time azul perder como perdeu no sábado, totalmente dominado no primeiro tempo, inerte no gramado, como se fosse um lutador nocauteado. A torcida azul não merece passar por isso. Não adianta justificarem que a equipe ficou três anos na Série B, porque isso é passado. A partir do momento em que voltou à elite, é obrigação montar um time de acordo com o tamanho do Cruzeiro, e isso a gente não tem visto. Contratações fracas, jogadores sem a menor condição de vestir a camisa azul. A China Azul não quer migalhas da atual diretoria, composta por dois corintianos, Elias e Paulo André, e pelo tal Pedro Martins, que não tem história, nem currículo para gerir o clube. Ronaldo, que foi um fenômeno nos gramados, deixa a desejar como gestor e não parece estar interessado em montar um time para ganhar taças e sim como investimento, para uma venda futura. Aliás, ele deixou isso claro numa entrevista.

 




O torcedor sonha em ver o verdadeiro cruzeirense, Pedro Lourenço, como dono majoritário do clube. Como é sabido por todos, foi Pedrinho, como é conhecido, que não deixou o clube fechar as portas em seu momento mais delicado. Pôs comida à mesa dos jogadores, pagou salários, deu patrocínio. Nunca é demais relembrar isso, pois as pessoas são ingratas. Pedrinho aportou R$ 100 milhões e comprou 20% da SAF. Porém, o torcedor cruzeirense quer mais. Quer que ele compre a parte de Ronaldo, os outros 70% e toque o clube sozinho. Não sei se Pedrinho teria esse interesse, pois é um empresário dos mais bem-sucedidos do país, e o Supermercados BH, com mais de 300 lojas nas Minas Gerais, 34 no Espírito Santo, vai de vento em popa, a primeira rede de supermercados do estado e a quinta rede do país, com faturamento na casa dos R$ 17 bilhões. Pedrinho acorda bem cedo e trabalha muito. Seu sucesso é fruto disso e de uma equipe muito bem montada, com cada funcionário fazendo sua parte de acordo com aquilo que o patrão determina. Com tantos afazeres, não sei se Pedrinho teria tempo para cuidar também do futebol azul, mas esse é o sonho dos 14 milhões de cruzeirenses espelhados pelo mundo.


O site No Ataque publicou uma matéria sobre o silêncio sepulcral de Ronaldo há 71 dias. Ele não fala sobre os péssimos resultados do time, não dá satisfação ao torcedor. Desde o dia 9 de fevereiro que ele não fala sobre o time principal, o que mostra que não há a menor empatia entre ele e a China Azul. Até hoje, os torcedores cobram sobre a forma como o clube foi vendido a Ronaldo, que, segundo consta, não pôs nenhum centavo e gere o clube com os próprios recursos que entram. Desse jeito, havia muitos cruzeirenses de verdade, que poderia ter comprado. A tal empresa que fez a venda disse que havia outras 15 propostas, mas que a melhor foi a de Ronaldo. Não é possível que uma instituição tão gigantesca e campeoníssima tenha valido apenas R$ 400 milhões, mesmo com todas as dívidas que tinha. Para mim, foi a pior venda do futebol, junto com Vasco e Botafogo. Confesso que quando soube que Ronaldo seria o dono imaginei grandes investimentos, um time forte e a volta das taças para a Toca da Raposa. Me enganei, pois a gestão de Ronaldo não é aquela que imaginávamos. Todos entendem a situação em que ele pegou o clube, mas esperava-se um grande investimento já que se supõe que ele seja milionário.


A contratação de Elias e Paulo André, com imagem ligada ao Corinthians, além de D’Alessandro, que é ídolo do Internacional, é uma incógnita. Primeiro, porque eles nunca foram gestores de nada. Segundo porque não sabem nada da história do Cruzeiro. O argentino se mandou, pois viu que estava em lugar errado. Paulo André e Elias continuam junto com Pedro Martins. É visível que o trabalho é pífio. Salva-se o espetacular Paulo Autuori, campeão e competente, ético, transparente e correto. Graças a ele ainda há algum rumo no Cruzeiro. O torcedor não tem nada contra os corintianos, mas gostaria de ver no clube alguém com o DNA do Cruzeiro, que conheça sua história e tradição. Ronaldo foi apoiado pela belíssima campanha de 2022, quando o time subiu da B, com campanha estupenda. O desconhecido Pezzolano deu certo, os jogadores abraçaram a causa e a coisa fluiu. Só que na elite do futebol, a banda toca diferente. São jogos contra adversários de nível e não se pode ter um time qualquer.


Ronaldo não gosta de ouvir verdades e nem de receber críticas. Sempre o apoiei e tive uma amizade com ele de mais de 30 anos. Mas, se não entende o papel do jornalista, realmente não é possível ter amizade. A crítica aqui é sempre ao dirigente, jamais a pessoa. E Ronaldo continua a ser um ídolo, cuja carreira eu cobri do começo ao fim, com matérias e furos memoráveis. Gostaria de vê-lo tendo sucesso como gestor, mas não posso fechar os olhos para a realidade atual. Se ele se cercar de gente que conheça o DNA azul, que pense grande e que queira o Cruzeiro, novamente campeão, terá meu apoio e de toda a China Azul. Porém, com esse silêncio sepulcral e essa gestão ruim, está difícil. A solução seria mesmo ele vender sua parte nas ações, para alguém que queira ver o Cruzeiro no seu lugar de origem: na ponta e conquistando taças. A escolha é sua, Ronaldo.

 

 

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