Vinicius Júnior, do Real Madrid, comemora o gol de pênalti no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões da UEFA diante do Bayern de Munique -  (crédito: Kirill Kudryavtev/AFP)

Vinicius Júnior, do Real Madrid, comemora o gol de pênalti no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões da UEFA diante do Bayern de Munique

crédito: Kirill Kudryavtev/AFP

É um deleite assistir a um jogo em que Vinicius Júnior está atuando. Como eu gosto desse garoto, com quem estive apenas duas vezes. Mas, além de ter um berço maravilhoso, dado por seus pais, tem a estrutura de homem e cidadão, cuidados que o seu agente, Frederico Pena, também agente de Endrick, não abre mão. Frederico é filho de dois médicos em BH, tem berço, caráter e é super preparado, pois, como meus filhos, estudou na Escola Americana de BH. Está no mundo do futebol para dar uma vestimenta nova, afastar os maus profissionais e mostrar como um empresário de jogadores deve agir. Não é só botar a grana da negociação no bolso e ponto final. Nada disso. Há uma equipe muito bem montada por sua empresa, gerida com mão de ferro, que traça tudo o que o jovem deve fazer. A estrutura fora dos gramados permite que o atleta brilhe quando os jogos acontecem.


Vini Júnior é um jovem, como tantos outros, da periferia. Isso não o impediu de ir em busca do seu sonho e de se tornar, hoje, um dos melhores jogadores do mundo e dos mais decisivos. Driblador, sempre em direção ao gol, humilha os adversários, não os provocando, mas sim mostrando o seu talento. Como não há um jeito de pará-lo em campo, tamanha sua eficiência, os racistas (gente imunda e nojenta, sem princípios), resolveram cometer injúria racial contra ele, principalmente na Espanha, onde joga. Os mais terríveis são os torcedores do Atlético de Madrid. Aliás, na Espanha parece que eles não ligam para esse tipo de crime, o que é uma vergonha. Já puseram boneco dele, enforcado numa ponte de Madri e já chegaram e xingá-lo, mesmo quando não estava em campo e seu time, o Real Madrid, não estava jogando contra o Atlético de Madrid. Enfim, essa gente odiosa, nojenta e preconceituosa achou que ganharia essa guerra. Porém, o garoto, que sofre muito, como todos nós que somos do bem sofremos, não se intimidou. Encarou os racistas de peito aberto, denunciou e agora, pelo menos, a Uefa tomou a posição de interditar parte do estádio Wanda Metropolitano, do rival do Real, como medida punitiva aos clubes e aos torcedores. É pouco, mas já é um sinal de que as coisas vão mudar.

 

 


Eu lamento que outros jogadores negros não se unam a Vini Júnior nessa causa, que, na verdade, é de todos nós, brancos, negros, amarelos, indianos, enfim, de todos que abominam esse crime hediondo que é o racismo. Outro dia, conversando com meu amigo e grande jornalista Paulo César Vasconcelos, falei que todos nós lutamos contra o racismo e ele me disse: “Jaeci, acho muito legal que todos se unam em prol dessa causa, mas só quem é negro sente realmente na pele o que é ser discriminado. É uma luta de séculos e ainda sofremos muito”. Ele tem toda razão, mas, ainda que não sintamos na pele, é nossa obrigação como seres humanos decentes, religiosos, com caráter e berço, lutarmos juntos. Gostaria de ver Neymar se engajar mais nessa causa, assim como tantos ex-jogadores que passaram pela Seleção Brasileira. Quanto mais gente de peso estiver na campanha, mais os racistas vão ficar inibidos, até que o último deles seja extinto da face da terra.

 


O espetáculo que Vini Júnior deu na terça-feira, com dois gols contra o Bayern, numa das semifinais da Champions League, foi um colírio. E, felizmente, ninguém o xingou, o agrediu, e sim se curvou ao seu talento. Se não for o melhor jogador do mundo, hoje – acho que ele divide com Mbappé esse posto –, muito provavelmente será na próxima temporada. E se até dezembro não esquecerem de suas belas atuações e gols, ele poderá ser o número 1 do planeta bola. Nosso último jogar a conquistar esse posto foi Kaká, em 2007. Vini, continue brilhando, sendo esse garoto de caráter, que enfrenta os problemas mais graves, de peito aberto, e que está fazendo um bem danado ao futebol e a sociedade. Nós estaremos ao seu lado contra os racistas e contra essa gente odiosa. Você já é um grande vencedor e continue nos brindando com dribles desconcertantes e gols geniais. Essa é a melhor resposta que você deve dar. Seu choro é o nosso choro. Sua luta é a nossa luta. Obrigado por ser um jovem de tanto talento, tanto caráter e tanto berço. O futebol e a sociedade de bem agradecem. Drible, tabele, faça gols. Seus filhos e netos terão muito orgulho do ser humano que você é.