Jogadores do Atlético treinaram sábado na Arena MRV. Os R$ 666 milhões arrecadados, além de alimentos e água, serão revertidos às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Jogadores do Atlético treinaram sábado na Arena MRV. Os R$ 666 milhões arrecadados, além de alimentos e água, serão revertidos às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

 

O momento não é de futebol, de bola na rede, nem de estádios cheios. Não podemos, como seres humanos, fechar os olhos para a maior tragédia da história do Rio Grande do Sul. O presidente da CBF não teve a sensibilidade de decretar a paralisação total do Brasileirão. Vi gente sugerindo que Grêmio, Inter e Juventude fossem treinar em outro estado, como se num passe de mágica tudo se resolvesse. Onde está a sensibilidade dessa gente? Temos visto cenas terríveis na TV, que nos emocionam e nos faz sempre pensar em ajudar. Hoje é no Rio Grande do Sul, amanhã pode ser no Rio de Janeiro, em Minas Gerais ou em qualquer outro estado maltratado por políticos indecentes. No Rio, por exemplo, tivemos quatro ex-governadores presos, um deles, Sérgio Cabral, está curtindo a vida, tomando vinhos caríssimos, rindo da cara do povo. Depois de confessar corrupção e roubo do dinheiro público, condenado a 400 anos de cadeia, anda livre, leve e solto pelas ruas do Rio. Vergonha!“

O futebol é a coisa mais importante, entre as menos importantes da vida”, nos disse Arrigo Sachi, após perder a final da Copa de 1994 para o Brasil. Penso como ele. Aliás, um futebol onde se mata e se morre em nome do “amor” ao clube. Bandidos, travestidos de torcedores, que invadem CTs, que agridem, que matam, que se digladiam a quilômetros de distância dos estádios, em nome de uma imbecilidade extrema. Não é esse o futebol que a gente quer. Não é hora de haver jogos, quando todas as pessoas do bem estão preocupadas com as pessoas e os animais do Rio Grande do Sul, em como aquela gente vai reconstruir suas vidas, suas casas, tudo o que perderam e construíram ao longo da vida. Se cada um de nós, que tiver condições, conseguir reconstruir uma casa e os móveis e utensílios de uma família, talvez consigamos reconstruir o Estado em tempo recorde. As crianças precisam voltar para a escola. Eu assumi esse compromisso com meu amigo, jornalista Sérgio Boaz. Tão logo as águas baixem, ele vai me indicar uma família para que eu possa ajudar, dentro das minhas possibilidades.


Se esperarmos algo dos governantes, estaremos perdidos. São pessoas insensíveis, que não parecem ter amor ao próximo. Governam para si. Sabemos que houve uma tragédia da natureza, chuvas em excesso, mas cada um dos habitantes das cidades, que joga papel nas bocas de lobo, também é responsável. Cada governante do Rio Grande do Sul que não cuidou do estado como deveria é culpado. Gosto desse atual governador, Eduardo Leite, me parece uma pessoa do bem, mas tudo o que está acontecendo é reflexo de desmandos e desmandos ao longo dos anos. Os políticos brasileiros, com raras exceções, envergonham a nação. O presidente da República desembarcar em Porto Alegre e, diante da tragédia, dizer que está “torcendo para Grêmio e Inter”, é de uma indecência sem tamanho. Um cara despreparado, que zomba da cara dos brasileiros.


Parabéns ao Clube Atlético Mineiro, nas figuras dos seus donos, Ricardo Guimarães, Rubens e Rafael Menin, e de sua torcida, por terem tido a sensibilidade de fazer um treino na Arena MRV com os torcedores pagando ingresso e a renda destinada ao povo do Rio Grande do Sul. Foram R$ 660 mil arrecadados, que somados a outras quantias, se transformarão em bilhões. Iniciativa que deveria ser copiada por seus pares. É hora de solidariedade, de orar pelos nossos irmãos gaúchos, de pedir a Deus que ponha a mão sobre o Rio Grande do Sul e faça as chuvas cessarem. Quanto ao futebol, que fique relegado ao último plano. Conmebol e CBF deveriam se unir em prol de uma paralisação, de pelos menos um mês, para que o Rio Grande do Sul possa contabilizar as vidas perdidas e os prejuízos incalculáveis. Sei que a vida tem que continuar, mesmo quando perdemos entes queridos, mas ter um pouco de sensibilidade, coração e alma na hora de uma tragédia sem precedentes, é o mínimo que se espera do ser humano. Porém esperar solidariedade desses dirigentes que comandam o futebol na América do Sul, é muito. Eles são demagogos e vaidosos. Talvez não saibam que nasceram nus e morrerão sem sequer escolher a roupa com a qual serão enterrados. Poderiam passar pela história como gente do bem, mas passarão como vilões. E aos torcedores, um recado: herói é quem salva vidas, que resgata pessoas, quem realmente se preocupa com o próximo. Os jogadores são apenas jogadores de futebol e nunca passarão disso. Eu apoio a paralisação do futebol da América do Sul, e você?