O futebol brasileiro sempre teve dirigentes apaixonados, que davam suas vidas pelo clube que amavam. No passado, não tão distante, tínhamos os “Euricos Miranda da vida”, que peitavam federações, CBF e faziam valer o direito dos seus clubes. Eurico – defeitos à parte – era odiado pelos torcedores rivais, e amado pelos vascaínos, haja vista o número de taças que o cruzmaltino conquistou sob sua gestão e do também ex-presidente, Antônio Soares Calçada.

 

O Flamengo teve George Helal e Márcio Braga, e este mudou a história do rubro-negro depois de o time sofrer uma goleada para o Grêmio em 1977. Daquele dia em diante ele prometeu que o Flamengo viraria a chave e começaria uma era de conquistas. Para mim, foi o maior presidente da história do clube.

 

O Cruzeiro teve Felício Brandi, considerado o maior de todos, por ser visionário e ter colocado o Cruzeiro no mundo, com aquele timaço de Dirceu Lopes, Piazza e cia.

 

No Atlético, o eterno presidente Elias Kalil, que montou o time mais importante da história do clube, com Reinaldo, Luisinho, Éder e Cerezo, entre outros. Foi o maior presidente da história do clube, e, seu filho, Alexandre Kalil, o mais vencedor. Enfim, eram homens apaixonados por seus clubes e que dedicavam tempo e trabalho por eles. Os citados eram sim dirigentes amadores, remunerados pela paixão.

 




Só para citar uma passagem, na decisão do Brasileiro de 1980, o doutor Elias Kalil combinou um jantar com Márcio Braga, em seu apartamento, no Leme, após o jogo, independentemente do resultado. O Galo foi prejudicado pelo bandeira Agomar Martins e pela arbitragem de José Assis Aragão. Foi um escândalo a expulsão de Reinaldo, e um impedimento marcado de Palhinha, que ia sair na cara de Raul, mas Agomar Martins viu impedimento, quando na verdade, Toninho dava condições do outro lado ao atacante alvinegro. Lá pelas 9 da noite, Márcio Braga foi ao apartamento de Elias Kalil, conforme o combinado. O porteiro interfonou, Kalil atendeu e disse que era para Márcio Braga não subir. Ele não autorizou e nem recebeu o presidente rubro-negro para jantar, de tão indignado que ficou. Confesso que esse tipo de dirigente faz muita falta.


O mundo está mudando e com ele o futebol brasileiro. Chegou a era das SAFs, onde os clubes terão donos, como acontece com os europeus. Galo e Cruzeiro são SAFs. O primeiro, com a aquisição por parte de três bilionários, que são apaixonados pelo clube. Eles querem taças e não lucros. O Cruzeiro, agora, vai pelo mesmo caminho, pois Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH, comprou os 70% de Ronaldo Fenômeno e se tornou dono sozinho com 90% das ações, já que havia comprado 20% no passado. Pedrinho, como é conhecido, é também bilionário, e ama o Cruzeiro. Dessa forma, vai querer ganhar troféus, taças e não ter lucro. Essas, para mim, são as melhores SAFs do país, pois não descaracterizaram os clubes e têm no comando gente que conhece a história de cada um dos clubes e que só quer torná-los campeões.

 

Já as SAFs de Vasco e Botafogo são muito ruins. A primeira, comprada pela 777 Partners, vive um conflito, pois há rumores que a empresa americana está quebrada e pode ser condenada. Uma gente que não tem a menor identidade com o clube e que não conhece a história do gigante Vasco da Gama, que ainda detém 30% da SAF, mas que não apita nada. A majoritária é a empresa americana. No Botafogo, John Textor é bilionário, mas não conhece a história do Botafogo e comprou o clube visando lucros e não taças. Perdeu um título ganho, na temporada passada, e anda jogando lama no ventilador, com acusações, até aqui, infundadas de corrupção e manipulação e resultados no futebol brasileiro.


Claro que é legal ver os novos CEOs trabalhando nos clubes. O Athletico-PR, que ainda não se transformou em SAF, tem Alexandre Leitão, ex-presidente do Orlando City, um cara super preparado, que já fora CEO da Ambev. Rodrigo Caetano, outro gestor muito bem preparado, está na CBF, e há outros diretores de futebol, principalmente nos clubes de São Paulo, que fazem trabalho belíssimo. Chegou a vez dessa gente séria, correta e que visa sempre o lado do clube. Não há mais espaço para dirigentes que fazem negociatas, que são xingados por torcedores e jogadores, por supostas vantagens financeiras em negociações. Aos poucos, vão sendo extirpados, até que tenhamos nos clubes apenas gente preparada e transparente.


Confesso que tenho saudades dos dirigentes amadores e apaixonados. Era uma época em que só havia craques, grandes jogos e muita polêmica também. Me esqueci de citar o grande Francisco Horta, um jurista dos mais renomados, que revolucionou ao contratar Rivelino para o Fluminense e montar a “Máquina Tricolor”, que tinha além de Riva, Paulo César Caju, Carlos Alberto Pintinho e outros gênios da bola. Ouvir o doutor Horta, com seu português corretíssimo, após os jogos, era uma delícia. Como ele nos ensinou. E a paixão dele pelo Flu foi algo extraordinário. Entendo que o momento é outro, em todos os segmentos, mas o futebol com paixão, amor e racionalidade, dos tempos passados, nos encantava. Hoje a coisa tá mais fria, a emoção já não é a mesma, não há craques, e vivemos uma crise sem precedentes. Se eu tivesse que escolher entre os dirigentes do passado e de hoje confesso que ficaria com os antigos. Eram de verdade, apaixonados, torcedores dos clubes que comandavam. O amor falava mais alto que o dinheiro. E você, o que prefere?

 

DIA DAS MÃES

 

Não tenho mais minha mãe, Lourdes, ao meu lado, fisicamente, nem minha segunda mãe, minha sogra, Ângela, que se foi em fevereiro. Mas sei que elas estão pertinho de mim e da minha família, espiritualmente. Hoje, quero felicitar todas as mães do Brasil e do mundo. Se você tem sua mãe ao seu lado, diga que a ama. A hora é essa. Mãe é o amor mais perfeito do mundo. Feliz Dia das Mães.

 

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