Enquanto o Rio Grande do Sul conta os mortos da maior tragédia de sua história, e os gaúchos tentam reconstruir a vida, o futebol brasileiro dá uma pausa de duas rodadas do Brasileirão da Série A, por exigência de clubes sérios e solidários, que se mostram humanitários e solidários. Flamengo e Palmeiras estão do lado oposto, pois queriam jogar a qualquer preço. Parece que para eles não importa a vida de seres humanos e dos animaizinhos, que nos emocionam a cada resgate. Querem bola rolando, com certeza para levarem vantagem sobre os demais concorrentes.

 

Eles se deram mal. Foram voto vencido e terão que se contentar em apenas treinar. Aliás, já que querem tanto jogar, sugiro que façam um “torneio” entre eles mesmos. Como são insensíveis Landim, Braz e Spindel, o trio mais frio e gélido que já vi. Quanto ao Palmeiras, o técnico Abel Ferreira é que queria jogar. A presidente do clube, Leila Pereira, eu acredito que é a favor da paralisação, pois sempre se mostrou sensível e muito correta.

 



 

O egoísmo nos clubes brasileiros é um velho conhecido. Os dirigentes se apossam, como se deles fossem donos. Não percebem que estão no cargo e que em algum momento terão de dar a vez a outro. São vaidosos, mascarados e se acham acima do bem e do mal. Alguns não conseguem formar uma frase, tamanha a ignorância e o péssimo vernáculo, mas se acham os maiorais. Culpa nossa, que de um tempo para cá demos espaços para dirigentes, quando os protagonistas são os jogadores.

 

Nos bons tempos do jornalismo sério – hoje o que mais se vê é gente despreparada com o microfone na mão –, somente os jogadores davam entrevistas. Nem mesmo os técnicos eram prioridade. Nós os ouvíamos uma vez ou outra. As coisas mudaram, e para pior. Hoje, os treinadores, no mundo todo, são obrigados a dar entrevistas após os jogos e acabam servindo de pauta para a semana toda. São os novos e péssimos tempos do futebol e do jornalismo.

 

 

A CBF, entidade bilionária, contestada ao longo dos anos, continua a mandar no futebol. As federações só existem para votar e eleger o presidente da CBF. Elas inexistem em países sérios e sobrevivem de mesadas da entidade e da manutenção dos falidos, retrógrados e ultrapassados campeonatos estaduais.

 

Não seria hora de mudarmos esse jogo e tornar a CBF uma entidade de caráter público, acabando com as federações? Com a CPI da manipulação de resultados, poderíamos também avançar nessa questão. Sou a favor de que a entidade continue privada, mas com caráter público, de verdade.

 

 

Um leitor me chamou a atenção ao mostrar que, se a CBF passasse para as mãos do governo federal, teríamos corrupção e desmandos. Ele tem razão, face a quantidade de órgãos públicos envolvidos em denúncias e falcatruas. É preciso criar um mecanismo pondo um CEO bem preparado para gerir a entidade e a Seleção Brasileira. O papel da casa do futebol deve se limitar a isso.

 

As denúncias do dono do Botafogo, John Textor, precisam ser apuradas com rigor. Se ele estiver blefando, que perca a SAF e seja banido do futebol. Já passou da hora de mudarmos o futebol brasileiro, desacreditado e medíocre. Ainda somos os únicos pentacampeões do mundo, mas nossa organização é zero. Estamos falidos tecnicamente, na arbitragem, nos dirigentes e no nível técnico.

 

Precisamos resgatar de verdade o nosso verdadeiro futebol. O caminho é longo e árduo, mas somente com muita vontade poderemos mudar esse quadro. Nós, imprensa séria, também temos culpa e precisamos fazer a nossa parte para melhorar.

 

 

Enfim, um domingo sem os principais clubes em campo por uma causa nobre, a de ajudar nossos irmãos do Rio Grande do Sul. Como o “futebol é a coisa mais importante, entre as menos importantes da vida”, vamos optar por salvar vidas e reconstruir o Rio Grande do Sul. Ainda que só por duas rodadas de paralisação, o ato já representa muito e dá mais credibilidade aos clubes.

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