O meio-campista brasileiro Oscar, de 32 anos, que atua desde 2016 no Shanghai Port, da China, é pretendido por vários times brasileiros -  (crédito: AFP- 22/8/20)

O meio-campista brasileiro Oscar, de 32 anos, que atua desde 2016 no Shanghai Port, da China, é pretendido por vários times brasileiros

crédito: AFP- 22/8/20

O campeão do mundo Rivelino, que fez parte da maior Seleção Brasileira de todos os tempos, a de 1970, declarou recentemente: “o nosso último grande craque foi revelado em 2011, pelo Santos, e chama-se Neymar. De lá para cá, não revelamos mais ninguém. Hoje não se tabela, não se dribla e o Brasil virou o futebol de bolas alçadas na área”.

 

O Riva tem toda a razão. Como gênio que foi, sabe o que está falando e, pelo jeito, vamos sofrer muito até que mudemos e voltemos ao que fazíamos no passado. As divisões de base sempre revelaram grandes jogadores, em todas as equipes do país. Hoje, não revelam mais ninguém, pois o pessoal que comanda tais divisões parece não entender de bola. O Cruzeiro fez certinho: contratou Adílson Batista, técnico consagrado e profundo conhecedor de futebol, por 5 anos, para que cuide da base, como se cuida de um filho, lapidando os garotos e os tornando grande jogadores.


As palavras que a gente mais ouve dos treinadores à beira do campo, onde os microfones de TV captam tudo, são: “pega, marca, mata a jogada”. É muito raro ou quase impossível ouvir: “tabela, dribla, toca, faz o gol”. Técnicos enganadores, que ganham fortuna e, para garantir o emprego, fazem o antijogo, privilegiam a marcação e inibem os poucos talentos que temos. Os dirigentes também são culpados, pois repatriam jogadores que deram caldo na Europa e foram mandados embora. Ou gente que atuou em ligas fracas, como China, Grécia e Portugal.

 

Ontem, eu divulguei a relação dos jogadores que protagonizaram o maior vexame da nossa história ao levaram de 7 a 1 da Alemanha numa semifinal de Copa do Mundo. Dez anos depois do maior vexame do esporte mundial, David Luiz, Marcelo, Fernandinho, Luiz Gustavo, Paulinho, Bernard (recém-contratado pelo Atlético), Hulk e Thiago Silva atuam no nosso futebol. Oscar, que está há quase 10 anos na China, é pretendido por vários times brasileiros. Vejam a pobreza do nosso futebol e, para dizer a verdade, muitos deles ainda jogam bem e são ídolos, caso de Hulk, um dos poucos que justificam o salário que ganham.

 


Com a volta desses jogadores, o garoto da base, com futuro promissor, fica inibido e acaba não tendo o espaço que tinham seus pares no passado. O lateral Marcelo, o zagueiro Thiago Silva e Felipe Melo. Eles jogam no Fluminense, que ainda tem Ganso e Renato Augusto, que fracassaram na Europa. Todos vão ocupar a vaga de um talento, de um jovem que poderia dar muito mais em campo, ganhar taças e dar um grande lucro ao clube.

 

David Luiz, reserva no Flamengo, é um absurdo. Os torcedores do Arsenal soltaram foguete quando ele foi vendido. Luiz Gustavo, Fernandinho e Paulinho, que entregaram quase todos os gols contra a Alemanha, impedem que volantes de qualidade ascendam ao time principal. Para ficar bem com os torcedores, os dirigentes preferem contratar os restolhos da Europa, a peso de ouro, do que investir no garoto criado no clube. É um erro grave que está jogando nosso futebol na lama.


Só para ficar no futebol mineiro, o Atlético, em 1978 enviou uma “barca” de 11 jogadores para o Rio Negro, de Manaus, pois já tinha jogadores qualificados no elenco. Eles foram ganhar experiência, pois haviam subido da base, se destacaram e jogaram no Galo por anos e anos, todos excepcionais.

 

O Cruzeiro sempre fez o mesmo. Como formávamos grandes jogadores. Como tínhamos gente séria e competente comandando as categorias de base. Hoje, não se dá valor ao jovem. Alguns chegam aos profissionais sem saber dominar uma bola, sem saber cabecear, sem estarem prontos ou lapidados.

 

Até os Europeus, que sempre contrataram jogadores do mundo inteiro, estão se reinventando. A Inglaterra é um grande exemplo. Sua seleção tem jogadores de altíssimo nível, que atuam na Premier League, com muita qualidade. Acabou o “chuveirinho” no futebol bretão. Agora a bola rola, de pé em pé, as jogadas são trabalhadas e a qualidade é notável.

 

Já o Brasil, que dava aula nesse quesito, involuiu e vive de jogadores do passado, repatriados. Por isso nosso nível técnico é dos piores do planeta, a bola rola menos de 45 minutos por jogo, temos mais de 50 faltas e poucos jogos emocionantes. Até quando o Brasil vai continuar a maltratar a bola e as categorias de base?