Brasil não passa do empate diante da Costa Rica na estreia da Copa América, nos EUA -  (crédito: Patrick T. Fallon / AFP)

Brasil não passa do empate diante da Costa Rica na estreia da Copa América, nos EUA

crédito: Patrick T. Fallon / AFP

Sempre digo que o futebol só é um mundo à parte na questão salarial, no mais, está inserido no contexto da realidade do país. E a Seleção Brasileira nada mais é do que reflexo do desgoverno do país, há décadas, das falcatruas e das negociatas. O povo brasileiro elege os empresários como os “donos da CBF”, que convocam e desconvocam jogadores, para vendê-los a peso de ouro para a Europa. O time canarinho, de tantas conquistas gloriosas, foi jogado aos leões desde os 10 a 1 (7 da Alemanha e 3 da Holanda), na Copa de 2014, no Brasil.

 

Felipão, técnico, com os jogadores Júlio César, Maicon, Dante, Davi Luiz e Marcelo, Luiz Gustavo, Fernandinho e Oscar, Bernard, Hulk e Fred, era o time titular, depois entraram Paulinho, Ramires e outros menos votados. O maior vexame do esporte mundial. Vi crianças e adultos chorando no Mineirão, incrédulos. Nosso maior patrimônio esportivo havia sido jogado na lama.

 

 

De lá para cá, viramos saco de pancadas. Nem os africanos, para quem jamais havíamos perdido, nos respeitam mais. Em seis meses, tivemos três derrotas, para Camarões, na Copa do Catar, e nos amistosos contra Marrocos e Tunísia. Tite foi um fracasso com um time marcado por vários jogadores medíocres, mas que tinham “empresários fortes”, segundo o torcedor. Seis anos jogados no lixo, sendo que nenhum outro técnico teve tanto tempo à frente do nosso escrete.

 

Nas Eliminatórias, estamos em sexto lugar, atrás da Venezuela e Equador. Sim, não é pesadelo, é realidade. Na segunda-feira, demos vexame no estádio mais caro do mundo, em Los Angeles, ao empatarmos com a inexpressiva Costa Rica. O que falta mais? Já perdemos para a Venezuela, num amistoso em Boston, com Dunga de treinador. Empatamos, em Cuiabá, com a mesma Venezuela, nas Eliminatórias para a Copa de 2026. Ninguém nos respeita ou teme a nossa camisa, aliás, bem descaracterizada.

Temos um técnico honesto e competente nas equipes pelas quais passou, mas o problema é a safra. Vini Júnior, dizem os torcedores, só joga no Real Madrid. Claro, até eu jogaria lá. Tendo dois gênios, como Modric e Kroos, fica fácil. Aliás, me apontem nos últimos tempos, no futebol brasileiro, um jogador melhor que o croata e o alemão? Não existe. Não formamos mais craques e sim bons jogadores, vendidos, precocemente, para o Velho Mundo. Temos até alguns bons valores, como o próprio Vini Júnior, Rodrigo e Endrick, mas basta um passe, um drible ou um gol, para alguém imaginar que descobrimos um novo Pelé. Temos um único jogador diferente que é Neymar, que vive atordoado por contusões, e que resolveu ser celebridade. Aliás, um jornalista elogiou Mbappé, outro dia, e Neymar postou: “puxa-saco de gringo”. Mas quem estava puxando o saco de gringo era ele, ao lado de Jimmy Buttler, genial jogador do Miami Heat, no estádio em Los Angeles.

Estamos como um cego em tiroteio, ou um cão num caminhão de mudanças, sem rumo e sem saber para onde correr. Num grupo onde a Costa Rica deverá ser o fiel da balança, ainda vamos encarar Paraguai e Colômbia. A Copa América não vale absolutamente nada para quem é pentacampeão do mundo, mas deveria ser uma espécie de torneio para montarmos um time decente para a Copa de 2026. Não será com Alisson, Marquinhos e Danilo, fracassados das duas últimas Copas, que chegaremos ao objetivo. É preciso dar chance, de verdade, a Bento e outros jovens. Falei isso com Dorival Júnior. Mandei para ele as falhas de Alisson, no Liverpool, mas o treinador de goleiros é Taffarel, que treina Alisson no clube inglês. É assim que funciona. Está tudo errado e eu pensei que Dorival iria corrigir. Se vamos ganhar do Paraguai, eu não sei, muito menos da Colômbia. Paquetá, denunciado pela Federação Inglesa, por suposta manipulação de cartão amarelo, que corre o risco de ser banido, é titular e um dos principais jogadores. Viram como está tudo errado? Sou um entusiasta e apaixonado pela camisa amarela, mas, morando em Miami, credenciado para a cobertura da Copa América, não me interessei em pegar meu carro e ir a Orlando, cobrir os treinos, e muito menos a pegar um avião e atravessar da costa leste para a oeste para fazer Brasil x Costa Rica. Tem algo errado ou não tem? Essa seleção não me representa, não representa você, não representa o Brasil. Essa é a única realidade.

E pra fechar, a TV Globo, onde trabalhei 10 anos, sempre teve em Galvão Bueno, a voz do Brasil, com críticas duras, nos momentos certos, sempre polidas e coerentes. Hoje, a principal TV do Brasil, que está entre as três maiores do mundo, não tem representatividade. Por isso, estou lançando a campanha #voltagalvao. Se ele não quiser mais narrar, que seja a opinião do esporte, como sempre foi. Estamos sem representatividade no campo, com esse time medíocre, e na voz, pois nos acostumamos, nas últimas quatro décadas, a ver e ouvir o maior vendedor de emoções ser duro nos momentos necessários e generoso nas grandes conquistas. #voltagalvao