ORLANDO – Estive ontem no estádio do Orlando City e conheci algumas histórias de torcedores cruzeirenses, em sua maioria jovens, que estão aqui nos Estados Unidos, morando e trabalhando, alguns, infelizmente, de forma ilegal. São homens que saíram do Brasil para buscar uma vida melhor, mandar dinheiro para os familiares e ter uma vida mais digna aqui, com saúde, segurança e educação.
Mesmo encarando 20 horas de estradas, passando pela neve, frio e desconforto, alguns vieram de carro, atravessando parte da Costa Leste, para ver o Cruzeiro jogar. É impressionante o amor dessa gente pelo time. E o mínimo que esses jovens pedem é para que os contratados façam bons jogos e levem seu time às conquistas. Exibindo, orgulhosos, a camisa azul do Cabuloso, eles cantam, dançam e esperam ver Gabigol em ação.
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A maioria vem para os Estados Unidos para trabalhar na construção civil, erguendo casas, instalando pisos, telhados e todo o tipo de serviço. Carpintaria, pintura, trabalhos básicos que os americanos não fazem. Vivo nesse país há oito anos e nunca vi um americano limpar privadas ou fazer algo do tipo. Eles deixam para os imigrantes, e o que não falta por aqui são pessoas em busca de uma vida melhor.
No hotel do Cruzeiro, na noite de terça-feira (14), conheci o Orlando Romeris, que chegou aqui há 23 anos, instalou-se em Nova Iorque, aprendeu a mexer com piso, e hoje é um dos mais importantes do país. Já pôs piso na casa de artistas de Hollywood e até do diretor de novela, José Emanuel Carneiro e seu marido, o ator, Carlo De Lavaquia. Também já trabalhou na propriedade do Rei Pelé, mas lamenta nunca ter encontrado com ele. “Fiz todo o piso da casa dele, mas só tive contato com a filha. Todo mundo me disse que ele era simples e amável, mas não tive a felicidade de tirar uma foto com ele”.
São histórias e mais histórias, algumas em que a gente chora, outras, como a do Romeris, que teve um final feliz. Mesmo com todas as dificuldades da língua, do frio, de viver longe da família, ninguém fala em voltar. Os que vivem no país de forma legal, com documento, jamais cogitam essa hipótese. Os que chegaram há pouco tempo, sem “lenço e sem documento”, se apegam aos empregos mais arriscados para sobreviver, enviar dinheiro para a família e ter uma vida de solidão.
Ontem, nas imediações do estádio, ouvi histórias e relatos que nos mostram que estar perto do time do coração dá a essa gente um alento, para que se sintam mais perto do Brasil. Conheci gente do Vale do Aço, de Nova Serrana, Contagem, BH, a maioria de idade inferior a 30 anos, com o sonho americano na cabeça e no coração.
Sonhar não custa nada, mas a distância entre o sonho e a realidade é grande. Novos ou velhos imigrantes têm uma certeza: aqui é um país que respeita o cidadão, que dá oportunidades, mas que cobra muito. Não existe carteira assinada, fundo de garantia, décimo terceiro ou coisa parecida. O trabalhador ganha por hora trabalhada. Não tem domingo, feriado, e a ralação vai de sol a sol.
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A volta do presidente Donald Trump, que assumirá o comando do país dia 20, tem assustado muitos, mas o brasileiro é resiliente e, no fundo da alma, sabe que o presidente americano vai deportar imigrantes ilegais que são criminosos. A mão de obra de gente que vem de fora é fundamental para o desenvolvimento e manutenção dos Estados Unidos. É isso o que movimenta esse país, que está muito bem na área da construção civil, justamente onde trabalha a maioria dos imigrantes brasileiros.
E como o futebol une povos, essa presença do Cruzeiro em território norte-americano serve para que cada torcedor do gigante das Minas Gerais sinta um pouco do “Mineirão”. Um dos imigrantes com quem bati um papo me disse que está há 4 anos sem ver seu time jogar, in loco, por isso mesmo encarou a nevasca que assola parte do país para sentir de perto sua paixão. E com Gabigol, Dudu e Cia, vem a certeza de uma grande temporada e de muitas conquistas.