Uma pessoa que completa 65 anos hoje tem quase 70% de chance de necessitar de algum tipo de cuidado de longa duração – serviços ou assistências para pessoas que se encontram em situação de dependência por um longo período de tempo - nos anos restantes da vida.

Segundo dados disponíveis para os países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os indivíduos vivem em média entre dois e quatro anos dependentes de cuidados mais intensivos no final de suas vidas.

Para se preparar melhor, aqui estão 10 coisas que você deve saber se estiver ajudando um ente querido mais velho, segundo a The Scan Foundation:

1. Você não está sozinho. Mais de metade dos adultos que atingem os 65 anos necessitarão, em algum momento, de um elevado nível de apoio para as atividades diárias básicas, como caminhar, comer, tomar banho e levantar-se da cama. Famílias em todo o país são afetadas, pois existem milhões de pessoas necessitadas de cuidadores não remunerados, que prestam assistência aos indivíduos, seja ao cônjuge, aos pais, aos parentes e até mesmo ao vizinho.



2. Pessoas diferentes precisam e desejam diferentes tipos de apoio. Pessoas que precisam de ajuda nas atividades diárias básicas também podem precisar de ajuda para pagar contas, tomar medicamentos regularmente, agendar e comparecer às consultas. Em algumas famílias, uma pessoa idosa pode cuidar de outra pessoa idosa, ou com demência, mesmo que também necessite de ajuda diária.

3.O apoio dos familiares conta. Os cuidadores familiares geralmente fornecem três tipos de apoio. O primeiro é o apoio físico ou cuidados práticos, que são as ajudas diretas nas atividades diárias. O segundo é o apoio financeiro, que consiste em ajudar um ente querido a administrar o seu dinheiro ou até suportar diretamente os custos dos cuidados. O terceiro é o apoio emocional, especialmente quando os problemas de saúde se tornam mais complicados para o ente querido.

4. Os cuidados de longo prazo custam caro. Em 2022, a média de um salário de um cuidador de idosos era de R$ 1.420,00, por uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, mas isso pode variar de acordo com a região do país. Os custos de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) variam de R$ 2.000,00 a R$10.000,00, ou até mais do que isso por mês, dependendo do nível da instituição, dos profissionais disponíveis e das instalações físicas. Embora os custos de uma ILPI variem bastante entre os estados brasileiros, são em grande medida inacessíveis para a maioria das famílias. Muitos indivíduos acabam dependendo de cuidadores familiares não remunerados, ou ficam sem os cuidados necessários ou gastam todos os seus bens para se manterem. Mas a grande maioria acaba dependendo mesmo do Serviço Público de Saúde.

5. O Serviço Público de Saúde não cobre tudo. O Brasil muito avançou no que diz respeito à garantia de uma renda mínima para a população idosa, mas a provisão de serviços de saúde e de cuidados formais ainda é uma questão não equacionada para a população idosa. O SUS tem a estratégia de cuidados destinados a pacientes em situação clínica que necessitam de reabilitação e/ou adaptação a sequelas decorrentes de processo clínico, cirúrgico ou traumatológico. O período de cobertura do Sus é de até 90 dias, incluindo orientação para os cuidadores e familiares. Há que se estabelecer um período de amparo maior, quando não por prazo indeterminado ou pelo tempo que se fizer necessário. É preciso estabelecer políticas públicas para que o Estado proveja serviços ou assistência para pessoas que necessitam de cuidados prolongados ou permanentes.

6. Converse com seus entes queridos. Não espere por uma crise de saúde para começar a falar sobre as necessidades e preferências quanto aos cuidados a serem demandados na velhice. Inicie esse diálogo desde já, para garantir um bom planejamento para o futuro, de modo que os seus entes queridos recebam cuidados de alta qualidade e que tais cuidados estejam alinhados com os valores e escolhas do próprio idoso. É importante manter esta conversa ao longo do tempo, à medida em que as circunstâncias da vida começam a mudar. Planejar com antecedência tem diferentes implicações e variam segundo as condições físicas e materiais de cada pessoa. Talvez seja necessário reservar dinheiro para pagar pelos cuidados futuros. É preciso até mesmo identificar quem trará os mantimentos semanais e ajudará nos preparos das refeições. Enfim, é preciso planejar as tarefas mais simples, tais como fazer uma lista de contatos de médicos, farmácia e advogados, e por aí vai.

7. Converse com os médicos do seu ente querido. As necessidades das pessoas mudam com o tempo. Converse com os médicos para ter certeza de que o ente querido esteja recebendo cuidados certos na hora certa. Importante conhecer os diagnósticos, as doenças, os medicamentos, os sintomas, o histórico das alterações físicas e da perda da capacidade para a realização das atividades regulares.

8. Construa um círculo de apoio. O seu ente querido pode ter um representante caso ele não consiga tomar decisões por conta própria. É importante envolver o máximo de pessoas do círculo familiar, para que os valores e preferências do seu ente querido possam ser honrados. Se você está prestando apoio a um idoso, certifique-se de que você também consiga receber os cuidados e o descanso necessários para dar conta da responsabilidade. Quanto mais cedo você começar a construir sua rede de apoio, melhor.

9. Todos nós queremos envelhecer com dignidade, autonomia de escolha e independência. Isto significa ser capaz de viver a vida ao máximo, independentemente das nossas incapacidades ou limitações físicas. Descubra o que o ente querido entende por “vida digna”, e faça com que a sua visão de mundo seja incorporada no planejamento que visa a garantir os cuidados e serviços a serem prestados àquela pessoa. Além disso, revisite esta conversa à medida em que as circunstâncias mudem.

10. Sua voz é importante. Estão sendo tomadas decisões nos níveis estadual e federal que poderão impactar os serviços disponíveis para você e para os seus entes queridos. Mantenha-se informado, envolva-se e tome medidas. Saiba mais sobre o que está sendo feito para garantir que haja políticas públicas voltadas para os brasileiros idosos. Os nossos idosos precisam estar inseridos em uma rede saudável de apoio e serviços disponíveis aos que necessitam de cuidados especiais. Converse com seus representantes eleitos sobre que tipo de apoio você deseja ao longo do tempo, à medida em que envelhece.

Melhorar a vida da população idosa, sempre mais exposta a doenças e outros agravos, é um direito e um dever. O processo de envelhecimento é para todos. Todos, sem exceção.

compartilhe