O Brasil vai começar a ver sua população diminuindo, daqui apenas 18 anos, em 2042, segundo projeções divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último 22 de agosto. Sairemos dos atuais 203 milhões para 220 milhões em 2041 e, a partir daí, haverá uma redução até chegar a 199,2 milhões em 2070.
Sem nenhuma surpresa, as projeções também indicam que o nosso país vai se tornando cada vez mais grisalho. De 2000 a 2023, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. Essa tendência prosseguirá —pela projeção, em 2070, cerca de 38% dos habitantes do país serão idosos. O Japão e países da Europa já enfrentam os desafios de uma população majoritariamente acima dos 60 anos, mas o nosso país não está preparado e não tem políticas públicas consistentes voltadas para esse enorme contingente de pessoas. A vida é mais difícil para quem é negro e velho, mulher e velha, LGBTQIA+ e velho, pessoa com deficiência e velha e assim por diante. A luta pela inclusão dos idosos vem, assim, somar-se a tantas outras lutas identitárias em curso no mundo contemporâneo.
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O preconceito de idade raramente opera de forma isolada. O etarismo além de incidir por si só, frequentemente atua com outro preconceito, como, por exemplo, com a misoginia, com o racismo, com a homofobia, com o capacitismo, com a gordofobia, entre outros.
Muitos dos idosos pretos (10,2% da população) e pardos (45,3% da população) não chegam à terceira idade devido ao racismo e preconceitos relacionados a questões sociais e econômicas. As mulheres tendem a se tornar invisíveis e assexuadas na velhice, sofrendo de tripla discriminação: idade, gênero e aparência. Para a população LGBTQIA+ o etarismos se revela mais intenso entre aqueles que não têm grupo de apoio na velhice: amigos e familiares. Muitos idosos com problemas de mobilidade ou dificuldades físicas, não querem ser comparados a uma pessoa portadora de deficiência e evitam usar dispositivos auxiliares, como bengala, andador e aparelho auditivo, acreditando que pessoas são definidas por sua condição e não pelo que são como indivíduos.
Depois de quase duas décadas das primeiras ações afirmativas que tiveram o foco nas questões de renda familiar, da discriminação por cor, sexo e das deficiências, faz-se necessário consolidar a luta contra o etarismo. A sociedade brasileira precisa avançar nesse debate. Somente por meio de políticas públicas é possível desencadear um processo de reeducação social para combater dogmas e derrubar preconceitos.
A luta começa pela identificação dos possíveis pontos de atenção na implementação dos mandamentos contidos no artigo 3º do Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 2003), que assim dispõe: “ Art. 3º - É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. É preciso trazer essas palavras para o campo concreto das ações.
Todos envelhecemos, todos nós, sem exceção. Não temos escolha, não há como parar o tempo.