Uma dúvida muito comum nos treinamentos que ministro sobre Diversidade e Inclusão é: Léo, mas qual é a sigla correta? Consigo entender a dúvida, pois na mídia e nos materiais divulgados pelas empresas nós vemos LGBT, LGBTI+ LBTQIA+, LGBTQIAP+, LGBTQIAPN+... São muitas opções e há pessoas que ficam confusas vendo a sigla crescendo ao longo do tempo.


Cada letra da sigla tem como função representar um grupo de pessoas que compartilha uma orientação afetivo-sexual ou identidade de gênero. Assim, quanto maior a versão da sigla que usamos, mais representativa ela é. Ao mesmo tempo em que a sigla mais completa tem a vantagem de representar mais pessoas, ela tem a desvantagem de ser mais difícil de ser lembrada e de confundir as pessoas que não conversam sobre a pauta no dia a dia, que não são estudiosas ou militantes. Ou seja, uma sigla menor tem mais efetividade didática e funciona mais facilmente para a comunicação com o público geral. Uma sigla maior é mais representativa e inclusiva.




Diante disso, qual o consenso dos movimentos sociais? A verdade é que não há um consenso. Diferentes versões da sigla são válidas e podem ser usadas. A ONU, por exemplo, utiliza LGBTI+, assim como o Fórum de Empresas LGBTI+. Eu tenho trabalhado com algumas empresas que usam LGBTQIA+, outras LGBTQIAP+ e mais recentemente com algumas que passaram a usar LGBTQIAPN+.


Eu, particularmente, acredito que enquanto não há um consenso (e a sigla ainda pode crescer para representar mais pessoas), o ideal é avaliar qual o objetivo que temos em cada situação para decidir qual versão usar.


Se estou falando com pessoas já letradas sobre o tema ou se vamos trabalhar com alguma questão relacionada às políticas públicas, prefiro o uso da sigla mais completa, LGBTQIAPN+, pois é dando visibilidade às pessoas que temos conquistas. Políticas públicas de saúde, educação e emprego para pessoas transgênero e travestis só começaram a ser pensadas depois que passamos a falar mais sobre elas, em um momento em que a sigla GLS já tinha caído em desuso e passamos a incluir o T na sigla. Pessoas Intersexo têm questões de saúde específicas e por isso precisamos dar visibilidade à letra I. Se não falamos sobre as pessoas, elas não são lembradas, por isso faz muito sentido usar a sigla mais completa para pensar as ações sociais, leis e políticas públicas.


Agora, se vou falar com pessoas que estão começando a aprender sobre o tema, eu prefiro iniciar falando LGBT+ ou LGBTI+. Aos poucos, elas vão se acostumando com a sigla e depois posso usar uma versão maior com elas. O processo de aprendizagem precisa de etapas e não adianta adotar um discurso complexo como primeira etapa. Mais importante que tentar ser “o mais correto possível”, é ser efetivo na entrega da mensagem para o público-alvo e propiciar uma aprendizagem real para que passem a considerar a inclusão em seu dia a dia.


Temos várias opções de siglas corretas e nesse momento não é adequado tentar impor apenas uma regra. Obviamente, isso não é desculpa para usar temos como GLS ou tratar todas as pessoas LGBTQIAPN+ como “a comunidade gay”, pois desse estágio já passamos e não há motivo para regredir.

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