Enquanto a cantora Madonna reclama do forte calor do veranico carioca e seus bailarinos curtem Copacabana e outras praias do Rio de Janeiro, num outono que ontem registrava mais de 37 graus, no Rio Grande Sul há uma tragédia em decorrência das fortes chuvas, com pelo menos 31 mortes, principalmente na Serra Gaúcha. Foram atingidos 147 municípios, 67 mil pessoas estão desabrigadas e, agora, com o transbordamento do Rio Guaíba, Porto Alegre está sendo inundada.
De pronto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para o Rio Grande Sul, onde prometeu todo apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB) para socorrer os flagelados, que estão sendo removidos das áreas de risco em caminhões, tratores, barcos e helicópteros. O socorro às vítimas foi muito prejudicado pelo mau tempo.
A Marinha está enviando aeronaves, viaturas e embarcações para atuar em apoio às vítimas. O Exército também reforçou o número de helicópteros com destino ao Sul, que aguardam por condições meteorológicas para pousar em Santa Maria. Mais uma vez, tanto o governo gaúcho como o governo federal não estavam preparados para uma tragédia dessa envergadura.
Em Santa Maria, uma das regiões mais afetadas pelas chuvas no estado, Lula disse que a prioridade é salvar a vida das pessoas atingidas: “A gente vai tomar conta disso com muito carinho, com muito respeito, para que as coisas possam acontecer. A gente não vai permitir, como não permitirmos no vale do Taquari, que faltem recursos para que a gente possa reparar os estragos causados”, disse, ao lado do governador.
O secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff Barreiros, permanecerá no estado, no centro de comando, para representar o governo federal no centro integrado com os demais níveis de governo. “Da parte do governo federal não faltará nenhum esforço para que a gente possa trabalhar arduamente, como já estão trabalhando as Forças Armadas”, garantiu Lula.
A catástrofe aproximou o presidente da República do governador Eduardo Leite, seu provável adversário nas eleições de 2026, que agradeceu o apoio de Lula: “Tenho certeza de que não faltarão recursos do governo federal para poder nos atender, mas neste momento a nossa prioridade é o resgate. Temos pacientes que precisam de hemodiálise e estão isolados em alguns municípios. Temos populações que estão isoladas e precisam de alimentação”, disse.
Eventos extremos
Às vésperas da COP-25, a conferência do clima que ocorrerá no próximo ano em Belém (PA), com forte apelo internacional, em razão de se realizar em plena Amazônia, o país não tem um plano de contingência da envergadura necessária para lidar com os chamados “desastres naturais”, cada vez mais frequentes por causa das mudanças climáticas. O aquecimento global é uma realidade, uma das maneiras mais eficazes de contê-lo a curto prazo é acabar com as queimadas.
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Eventos climáticos e meteorológicos extremos provocam o colapso da infraestrutura local, com perdas materiais e econômicas, danos ao ambiente e à saúde das populações, seja pelo desastre em si, seja por suas consequências. O fato é que as comunidades afetadas, como os municípios gaúchos, nunca têm os meios próprios para lidar com a situação, o que exige uma pronta resposta dos governantes em nível local, regional e nacional, como ocorre agora no Rio Grande do Sul.
Esses desastres, muitas vezes, combinam fatores hidrológicos, como inundações bruscas e graduais, alagamentos, enchentes, deslizamentos; geológicos ou geofísicos, como terremotos e vulcões; meteorológicos, tipo raios, ciclones, tornados e vendavais; e climatológicos: estiagem e seca, queimadas e incêndios florestais, chuvas de granizo, geadas e ondas de frio e de calor. Com exceção de terremotos, vulcões, furacões, todos os demais fenômenos correm no Brasil com mais frequência e intensidade do que acontecia antes.
Só os negacionistas do aquecimento global não acreditam nessas mudanças, por mais que estejam evidentes no mundo. Todos os indicadores mostram que as alterações ambientais e climáticas se intensificaram nas últimas décadas e estão produzindo impactos que vão dos grandes desastres a imperceptíveis consequências no dia a dia das pessoas, principalmente no âmbito da saúde. Até que surja um vírus novo, que provoque uma pandemia, como no caso da COVID-19. Outro exemplo é a epidemia de dengue, que ultrapassou todos os paradigmas, seja o de sua duração ou número de casos. Já morreram 2 mil pessoas.
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Em todas as situações, salta aos olhos a falta de um plano de contingência, com os recursos materiais e humanos necessários para uma pronta resposta. Todos os anos estão ocorrem grandes enchentes no país, nem sempre previsíveis quanto ao local e dia da tragédia, mas que podem ser estatisticamente estimados. O país precisa de um sistema de Defesa Civil mais robusto, organizado e equipado tecnologicamente, com maior integração entre os diversos órgãos que precisariam ser mobilizados para socorrer as populações atingidas.