Três disputas eleitorais de segundo turno, no dia 27 de outubro, desafiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a ampliar suas alianças, para evitar uma fragorosa derrota política para seus dois principais adversários, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PSD), aliado decisivo do prefeito Ricardo Nunes, que concorre à reeleição, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, grande responsável pelo desempenho eleitoral do PL no primeiro turno, ao lado do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.
Em São Paulo, Nunes e Boulos se enfrentarão novamente, com Marçal fora da disputa, porém, com grande poder de influência. Marçal ficou fora do segundo turno porque o feitiço virou contra o feiticeiro, quando fez circular nas redes fake news, na véspera da eleição, com base em documento falso, acusação de que Boulos teria sido internado drogado numa clínica de recuperação. A denúncia caluniosa provocou forte reação na campanha de Boulos, que liderava a disputa e poderia até ficar fora do segundo turno, e dos demais candidatos, entre os quais o prefeito Nunes, que criticou duramente Marçal e avançou para a primeira colocação.
Com 28% dos votos, Marçal poderá ser influente no segundo turno, porém, muito tóxico. O ex-presidente Jair Bolsonaro, de pronto, descartou o apoio formal do influenciador a Nunes, com o argumento de que os votos de extrema direita virão por gravidade para o prefeito. No PT, busca-se uma narrativa capaz de capturar os eleitores que optaram por apoiar a candidatura de Marçal por descontentamento em relação à administração e não por razões ideológicas. É uma manobra muito arriscada, que pode virar um tiro no pé.
O grande desafio de Boulos para derrotar Nunes no segundo turno é atrair o eleitorado de centro, que já deriva para o prefeito, em todas as pesquisas de opinião. O engajamento efetivo do presidente Lula na campanha de Boulos pode transformar uma eventual derrota em São Paulo num desastre político para o Palácio do Planalto. Esse é o tipo de decisão estratégica que costuma ser tomada com base em pesquisas. É a bala de prata que não pode errar o alvo.
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O resultado geral do primeiro turno mostra que o presidente Lula saiu enfraquecido no confronto com Bolsonaro, apesar de o PT ter aumentado o número de prefeitos eleitos: 248. O PL elegeu 510. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, o PL participará de 23 das 51 disputas pelas prefeituras. Em apenas duas, haverá confronto direto entre o PL e o PT: Fortaleza (CE) e Cuiabá (MT).
Em Fortaleza, André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) foram os mais votados. O atual prefeito, José Sarto (PDT), candidato à reeleição, teve apenas 12% dos votos. O grande derrotado no primeiro turno foi o ex-prefeito e ex-governador Ciro Gomes, aliado de Sardo, que agora está diante de uma “escolha de Sofia”: apoiar Lula ou Bolsonaro. Em Cuiabá, Abílio Brunini terminou como mais votado, com 39% dos votos válidos, seguido por Lúdio Cabral (PT), que teve 28%. Eduardo Botelho (União Brasil), terminou com 27% dos votos válidos e teve chances reais de ir ao 2º turno. Sua participação no segundo turno pode definir a eleição.
PSD desbanca MDB
A principal força municipalista do país agora é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, chefe da Casa Civil do governador Tarcísio de Freitas. Desbancou o MDB, que durante 20 anos foi o partido mais influente nas cidades brasileiras. O PSD elegeu 878 prefeitos, ao passo que o MDB, 847. Esse resultado reforça o centro político nas disputas que virão em 2026 e contribui para evitar a radicalização do processo político brasileiro. O terceiro lugar ficou com o PP, partido do ex-senador Ciro Nogueira (PI), aliado de Bolsonaro, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), com 743 prefeitos eleitos. O União Brasil ocupa a quarta posição, com 578 prefeitos, seguido dos Republicanos, 430; PSB, 309; e PSDB, 269. Foram eleitas 724 mulheres, contra 656 nas eleições passadas.
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Havia muita expectativa quanto à influência das emendas impositivas na eleição de prefeitos, em função de que a transferência de recursos de investimento do orçamento da União para os municípios agora ocorre em função dos interesses eleitorais dos deputados federais. Essa mudança reduziu muito o controle dos governadores sobre a destinação dessas verbas e, consequentemente, sua influência nas eleições municipais. Entretanto, dos 68 parlamentares que disputaram as eleições, apenas oito se elegeram no primeiro turno.
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Foram eleitos os deputados Alberto Mourão (MDB), em Praia Grande (SP); Gerlen Diniz (PP), em Sena Madureira (AC); Washington Quaquá (PT), Maricá (RJ); Dr. Benjamin (União), Açailândia (MA); Hélio Leite (União), Castanhal; Carmen Zanoto (Cidadania), em Lages (SC) e Nitinho (PSD), vereador de Aracaju (SE). O senador Rodrigo Cunha (Podemos) foi eleito vice-prefeito de Maceió (AL), na chapa de JHC (PL). Foram derrotados os senadores Carlos Viana (Podemos) em Belo Horizonte, Eduardo Girão (Novo) em Fortaleza (CE) e Vanderlan Cardoso (PSD) em Goiânia (GO). A candidatura de Antônio Nicoletti (União) à Prefeitura de Boa Vista (RR) foi cassada pela Justiça Eleitoral.