O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o grande ausente da 16ª Cúpula dos líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que começa nesta terça-feira (22/10) em Kazan, na Rússia. Para o presidente russo, Vladimir Putin, o evento tem importância estratégica, porque sinaliza para o mundo que seu isolamento não foi um objetivo alcançado pelo Ocidente, com as sanções econômicas adotadas pelos Estados Unidos, Inglaterra e União Europeia, por causa da invasão da Ucrânia pelas tropas russas.

 

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Lula foi impedido de participar do encontro em razão de um acidente doméstico – queda no banheiro –, no qual bateu com a cabeça e teve que levar cinco pontos, além de ser impedido de viajar, porque ainda se encontra sob observação médica. Esse tipo de acidente é muito perigoso e pode provocar lesões celebrais. Entretanto, politicamente, sua ausência é providencial, diante de algumas questões incômodas que serão tratadas nessa reunião, como os pedidos de adesão da Venezuela, de Nicolás Maduro; da Nicarágua, de Daniel Ortegra; e do Afeganistão, dos talibans. O Brasil é contra.

 




O Brasil é um dos fundadores dos Brics, como a Índia e a África do Sul, mas quem dará as cartas no grupo na reunião de hoje é a China, aliada à Rússia. O chefe da delegação brasileira é o chanceler Mauro Vieira, porém, Lula participará da cúpula por videoconferência, segundo o Palácio do Planalto. A realização da reunião em Kazan é um desafio ao Ocidente por si mesma, uma vez que o encontro foi montado sob medida para Putin. A cúpula contará com os novos integrantes do grupo: Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia. A Arábia Saudita ainda não oficializou sua entrada, mas já foi aceita no grupo.

 


O pano de fundo da reunião, inevitavelmente, será a guerra da Ucrânia. A posição de Lula sobre essa questão é ambígua. “Acho que a Rússia cometeu um erro crasso de invadir o território de outro país. Mas acho que quando um não quer, dois não brigam. Precisamos encontrar a paz", sustenta. Lula já chegou a dizer que Putin e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, “estão gostando da guerra”.

 

 


Lula e Xi Jinping apresentaram um plano de paz para a guerra da Ucrânia no Conselho de Segurança da ONU, mas dificilmente sairá do papel. É rejeitado pelos EUA e pela União Europeia. O Brasil votou a favor da resolução da Assembleia-Geral da ONU sobre a integridade territorial da Ucrânia, aprovada em outubro de 2022, e de resolução sobre paz duradoura e fim dos conflitos, aprovada em fevereiro de 2023, o que representa um compromisso do governo brasileiro com a paz.

 


A importância dos Brics é mais econômica do que política, porém, o grupo ganha viés ideológico antiocidental em razão da nova “guerra fria” entre EUA e a Rússia, tendo por pano de fundo a disputa comercial norte-americana com a China. As economias dos Brics suplantam as do G7. O PIB da Alemanha, da Áustria, da Finlândia e da Estônia está encolhendo; a União Europeia vive um momento de estagnação econômica e certa incerteza política. Mais de 30 países desejam ingressar nos Brics, entre os quais Azerbaijão, Bolívia, Honduras, Venezuela, Cuba e Turquia. A Rússia veta a entrada dos que apoiam as sanções norte-americana e europeias a sua economia.

 


O viés antiocidental do encontro é um problema para a diplomacia brasileira, mas agrada uma parcela do governo e, principalmente, a cúpula do PT. A tese de que algumas das instituições da ordem internacional estão voltadas contra os países em desenvolvimento e que o bloco pode ser um caminho para uma reforma ganha força. China e Rússia tiram proveito dessa questão, mas Brasil, Índia e África do Sul também querem manter relações boas com os EUA e União Europeia.

 


A Índia é a grande concorrente da China e procura ampliar sua influência na África, onde aumentou de 25 para 43 o número de embaixadas. O país é o quarto maior parceiro comercial africano e a quinta maior fonte de investimento direto estrangeiro na região. A economia indiana deverá crescer 6,5% ao ano entre 2024 e 2028, e tornar-se a terceira maior economia do mundo até 2032, ultrapassando o Japão e a Alemanha.

 

 


O Itamaraty tem por tradição uma política flexível, independente e pragmática, porém, o ex-chanceler e assessor especial da Presidência Celso Amorim aposta cada vez mais nas relações com o chamado “Sul Global”, para projetar a liderança de Lula nos países em desenvolvimento. Entretanto, as relações com países da América do Sul, principalmente do Mercosul, não têm sido fáceis para Lula.

 


Até novembro deste ano, o Brasil também ocupará a liderança rotativa do G20, grupo que reúne as 19 principais economias do mundo, além da União Europeia e União Africana, e que se reunirá no Rio de Janeiro, em novembro. No próximo ano, o Brasil assumirá a presidência dos Brics; a 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP-30) será em Belém (PA). 

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