A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de elevar a taxa básica de juros de 10,75% ao ano para 11,25% ano, acelerando o aperto monetário e as projeções do mercado financeiro de que o atual ciclo de altas se encerre com a Selic a 13,25%, um patamar registrado em setembro do ano passado, mostram que o governo precisa efetivamente promover um corte de gastos que equilibre o orçamento.



O governo deve anunciar o ajuste orçamentário para permitir o equilíbrio nas contas públicas. Em agosto, o corte proposto pelos ministros da área econômica era de R$ 26 bilhões. O valor já pode não ser este e além disso, o próprio aumento da taxa de juros pressiona, até porque o aumento dos juros pressiona o custo do refinanciamento da dívida pública e impacta o déficit nominal, que inclui a despesa com o serviço da dívida.

 



Na visão do mercado cabem medidas como a desvinculação dos benefícios da Previdência Social do salário mínimo, o que vai imputar sobre a parcela da população que dependem desses recursos parte do ônus de solucionar o problema do déficit público, Essa medida, no entanto, não será adotada pelo governo, que já garantiu que o corte de despesas não tocará em nenhum direito.

 



Vai restar então ao governo apresentar ao Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição para mudar a regra constitucional para despesas, como educação, saúde e outras, para que haja espaço no orçamento para ajustes. A intenção é atrelar algumas despesas à regra de correção do arcabouço fiscal. Pelo arcabouço há um limite para as despesas que não podem subir mais do que 70% da alta da receita e também não pode avançar mais do que 2,5% por ano acima da inflação.



A discussão se arrasta porque o governo não quer cortar gastos sociais e não está convencido de que uma vez feito o ajuste agora haverá uma acomodação no mercado, com a desvalorização do dólar frente ao real, o que levará a uma menor pressão inflacionária e consequentemente a uma taxa de juros mais baixa. Mas não há como saber e o ajuste é necessário. Com ele o ganho pode não ser significativo, mas sem ele o quadro pode piorar consideravelmente.

 



Ainda é incerto o impacto da eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. A expectativa é de que ele avance em incentivos à economia, com maior liquidez e mais dólares circulando, o que deprecia a moeda por um lado e por outro impondo tarifas a produtos oriundos, principalmente da China, mas não somente, o que pode interferir nas cadeias de produção e gerar inflação no país, obrigando o Fed a elevar os juros e levando investidores a apostar em títulos norte-americanos.



Com o dólar se aproximando de R$ 6 – ontem ficou próximo a R$ 5,70 –, o impacto sobre a inflação pode se tornar permanente num cenário de mercado de trabalho aquecido e salários em alta, o que permite aumentos nos preços dos serviços e dos alimentos, cujas altas podem acelerar empurradas também por problemas climáticos. No ano, a divisa norte-americana já acumula uma alta da ordem de 20%.

 



Isso significa aumento dos importados e dos produtos com cotação em dólar e também pressão sobre os preços dos combustíveis. O que parece incomum agora é que diante dessa pressão do câmbio, o Banco Central esteja inerte, sem realizar nenhum leilão para conter o avanço da moeda norte-americana. Com isso, a única chave para inverter a lógica de dólar caro, mais inflação e mais juros é o ajuste das contas públicas. Por mais que o presidente Lula e o PT resistam, o corte de despesas para equilibrar o orçamento é necessário.



Cartões

R$ 1 trilhão foi o valor das compras feitas com cartões de crédito, débito e pré-pagos no terceiro trimestre deste ano, de acordo com dados da Abecs



Varejo

Pesquisa realizada pela IPC Maps, especializada em potencial de consumo dos brasileiros, mostra que as despesas das famílias brasileiras no varejo deverão chegar a R$ 478,1 bilhões até o fim deste ano, com crescimento de 9,2% sobre 2023. Apenas a categoria vestuário responderá por R$ 163,9 bilhões. Já entre os estados o destaque é São Paulo, com R$ 127 bilhões.



Otimismo

O brasileiro é um otimista por natureza. Pelo menos 79% da população afirma que a vida pessoal e familiar está melhor este ano do que estava em 2023 e 72% avaliam que o país melhorou, segundo levantamento do Radar Febraban. A pesquisa ouviu 2 mil pessoas entre 15 e 23 de outubro. Por outro lado, a inflação continua sendo uma preocupação para 77% dos entrevistados.