Marcílio de Moraes
Marcílio De Moraes
Jornalista formado pela PUC Minas em 1988, com passagem pelos jornais Diário do Comércio e O Tempo. Trabalhou em coberturas de leilões de privatização e em feiras internacionais
BRASIL EM FOCO

Tarifas de Trump abrem janela para ajustes e até para ganhos

Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) recentemente mostra que o impacto macroeconômico é pequeno, estimado em 0,01% no PIB

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Depois de todo o barulho e das idas e vindas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as tarifas sobre aço e alumínio entraram em vigor há pouco mais de uma semana.e as reações menos acaloradas mostram que o impacto no Brasil vai de perdas para os setores siderúrgico e de alumínio e oportunidades para o agronegócio. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) recentemente mostra que o impacto macroeconômico é pequeno, estimado em 0,01% no PIB do Brasil, mas setorialmente a previsão é de uma queda de produção de 2,19% e redução de 11,27% das exportações no segmento de metais ferrosos brasileiro.Isso representa 700 mil toneladas a menos nas exportações e perda de US$ 1,5 bilhão.

 



Os dois setores são os mais prejudicados, mas a solução pode estar dentro do próprio Brasil que, segundo empresários do setor siderúrgico, está sendo “inundado” de aço importado. De fato, no ano passado as importações de produtos siderúrgicos cresceram 24% e chegaram a 6,2 milhões de toneladas, sendo que apenas de laminados (produto acabado) foram 5,1 milhões de toneladas. Isso, mesmo com o governo tendo elevado a alíquota de importação do aço para 25% em abril do ano passado. O volume importado pelo Brasil é 35% maior do que o exportado para os Estados Unidos, que fechou o ano em cerca de 4 milhões de toneladas.

 



Para o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, o governo está aberto ao diálogo. Ele acredita que até maio, quando vencem as tarifas adicionais impostas no ano passado, uma medida seja tomada. “A gente está próximo de vencer aquela primeira etapa de defesa comercial agora no mês de maio. Então eu estou muito confiante que depois do que a gente fez aqui hoje o governo vai implantar novas medidas, medidas um pouco mais duras, para impedir esse volume de aço enorme que entra no Brasil de forma desleal, numa competição totalmente sem isonomia”, disse o executivo na semana passada, em Ouro Branco ao inaugurar um novo investimento de R$ 1,5 bilhão na usina.

Por ter produção nos Estados Unidos, a Gerdau não será afetada pelas tarifas impostas por Trump nas suas operações no Brasil e Werneck chega a elogiar as medidas adotadas pelo governo norte-americano em defesa das empresas que atuam lá. “Para nós toda defesa comercial que os Estados Unidos tem colocado, não de agora, mas de alguns anos ela tem sido muito positiva para o nosso negócio nos Estados Unidos), diz o executivo ao defender que o governo brasileiro também adote restrições para defender as empresas brasileiras. “Nesse momento nós estamos trabalhando em conjunto para encontrar os melhores mecanismos para se possa dar esse passo adicional na defesa do setor do aço”, diz Werneck. “Quando a gente está defendendo, não é proteção, é defesa da indústria brasileira, nós estamos defendendo a vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras” acrescenta.

 


Já o agronegócio brasileiro pode se beneficiar da política comercial restritiva do governo Trump caso se efetivem as tarifas sobre fertilizantes do Canadá, grande produtor de potássio. Como o Brasil tem 85% da sua demanda por fertilizantes atendida por importações, o deslocamento da produção do Canadá para mercados com menor tarifa pode favorecer a estabilização e até mesmo a queda de preços no Brasil. Outro fator que pode forçar uma queda de preço nos fertilizantes é a trégua na Ucrânia. “O Brasil é um mercado que vai variar entre 45,5 milhões e 4,6 milhões de toneladas de fertilizantes no Brasil como todo. E sim, a trégua na Ucrânia pode sim fazer com que os preços se estabilizem mais rapidamente e tenham até, talvez, uma pequena queda à frente”, afirma o diretor-presidente da EuroChem no Brasil, Gustavo Horbach.

Ele observa ainda que os Estados Unidos importam 40% do fertilizante que consomem, o que vai elevar o custo de produção nos Estados Unidos e oferecer oportunidades para o agro brasileiro em mercados onde pode ficar mais competitivo. “Eu particularmente, não acredito que essa tarifa em fertilizantes dos americanos vá se sustentar por muito tempo, porque o agro americano, assim como o agro brasileiro está muito bem representado nas Câmaras lá e essa realidade vai se impor”, diz o executivo, que avalia que pode haver uma estabilização de preços em função da guerra tarifária, com a ressalva de “é um pouco cedo para a gente avaliar de maneira profunda”. O certo é que vai ser preciso algum tempo para ver o real impacto e as reais oportunidades geradas pelas tarifas impostas nos EUA.

Para a safra

R$ 10,2 bilhões - É o valor adicional que o Banco do Nordeste projeta aplicar no Plano Safra até junho. Em 2024/2025 o banco vai destinar R$ 21,8 bilhões com R$ 11,6 bilhões já liberados

Reciclado

A indústria global deve recicla entre 90 milhões e 100 milhões de toneladas por ano até 2050, segundo projeções da Aluminium Institute (IAI). Atualmente, esse volume está em cerca de 41 milhões de toneladas. No Brasil, foram reciclados 850 mil toneladas de sucata de alumínio em 2023 (último dado disponível), o que corresponde a cerca de 60% do metal consumido no país hoje, enquanto a média mundial é de cerca de 30%.

Bebidas

O Brasil encerrou o ano passado na 6ª posição no mercado de bebidas não alcoólicas, com 29 bilhões de litros. Segundo a Euromonitor, a expectativa é de crescimento de 10% até 2028. No caso do setor de bebidas alcoólicas, o Brasil ocupa o terceiro lugar, atrás da China e dos Estados Unidos, com pouco menos de 16 bilhões de litros, sendo a cerveja a bebida alcoólica mais popular no país, com 15 bilhões de litros consumidos.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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