Você sabia que 98% dos brasileiros possuem DNA Neandertal? O Homo neanderthalensis foi uma espécie de hominídeo cujos primeiros fósseis foram descobertos em 1856 em cavernas do Vale de Neander, na Alemanha.
Durante sua existência, os neandertais e os homo sapiens geraram filhos híbridos. Com o passar das gerações, mesmo depois da extinção dessa espécie, parte do seu DNA se integrou ao genoma humano, influenciando, inclusive, características fenotípicas como comportamentos, medos e fisiologia dos seres humanos modernos.
Esta e outras conclusões são reveladas pelo Ricardo Di Lazzaro, co-fundador da Genera, laboratório pioneiro em genômica pessoal no Brasil, que escreveu o livro "O DNA do Brasileiro: como a genética influencia nosso comportamento e ajuda a contar nossa história". Baseado em um extenso levantamento do laboratório Genera, que analisou mais de 250 mil DNAs, a obra apresenta dados significativos sobre a diversidade genética da população brasileira.
Di Lazzaro, doutor em genética pela Universidade de São Paulo (USP), mergulha nas profundezas do DNA para explicar por que somos o que somos, abordando questões que vão desde as origens ancestrais até a influência genética nos aspectos culturais que tornam o Brasil único. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o autor explica um pouco mais sobre a sua pesquisa.
EM: De onde surgiu a ideia do livro "O DNA do brasileiro"? Como foi a repercussão deste conteúdo para o público mais leigo?
Ricardo di Lazzaro: A ideia para o livro "O DNA do Brasileiro" surgiu da minha paixão pela compreensão da diversidade cultural e genética que caracteriza o povo brasileiro. Percebi a necessidade de explorar as origens e conexões que moldaram nossa sociedade. O objetivo sempre foi criar uma narrativa envolvente e informativa, promovendo uma reflexão profunda sobre a identidade brasileira e o futuro da genômica e da medicina de precisão, baseado em diversos dados e estudos, inclusive os que a Genera vem analisando nos últimos anos.
A repercussão do conteúdo foi muito boa, especialmente entre o público leigo. Por isso, foi inclusive ranqueado entre os mais vendidos e destaque em algumas editorias. O livro busca desmistificar conceitos complexos da genética e da história, tornando-os acessíveis a todos. Recebi feedbacks positivos de leitores que destacaram como a obra os ajudou a compreender melhor o funcionamento do DNA e como ele ajuda a explicar nossas raízes e quem somos como povo. Estou satisfeito em ver que o livro tem alcançado um público amplo e contribuído para uma compreensão mais profunda e inclusiva de quem somos como nação.
EM: Qual o papel da Genera na democratização dos testes genéticos no Brasil? Quantas pessoas já fizeram o mapeamento de ancestralidade?
Ricardo di Lazzaro: A missão da Genera é tornar cada vez mais acessível o conhecimento genético por meio dos testes. E podemos dizer que avançamos muito nessa missão, considerando que até certo tempo, por se tratar de uma tecnologia muito cara, os testes genéticos eram possíveis apenas a um grupo seleto de pessoas com alto poder aquisitivo.
Acreditamos que ao tornar os testes genéticos mais populares, estamos promovendo uma conscientização maior sobre genética e ancestralidade, além de possibilitar que as pessoas tomem decisões mais assertivas sobre sua saúde com base em dados genômicos personalizados. Nosso banco de dados hoje conta com mais de 300 mil indivíduos analisados, e sabemos que ainda há muito o que avançar nesse sentido.
EM: Como a Genera se mantém atualizada tecnologicamente? Vocês também oferecem acompanhamento com profissionais da saúde e até mesmo historiadores para interpretação dos testes, como funciona?
Ricardo di Lazzaro: A Genera investe continuamente em Pesquisa e Desenvolvimento para aprimorar seus algoritmos e sua plataforma para garantir que os testes genéticos estejam alinhados com os avanços mais recentes na ciência genômica. Constantemente lançamos novos painéis personalizados que possibilitam a descoberta de características novas associadas ao DNA.
Além disso, reconhecemos a importância de fornecer suporte abrangente aos nossos clientes e por isso oferecemos um serviço de aconselhamento genético, à parte, com profissionais multidisciplinares, como nutricionista, educador físico, médico e historiador para ajudar na interpretação dos resultados.
EM: Quais as tendências e avanços genéticos devemos ter nos próximos anos? E quais os perigos em relação ao mal uso da tecnologia?
Ricardo di Lazzaro: Acredito que a genômica continuará avançando rapidamente, permitindo a descoberta de novas variantes genéticas associadas a condições saúde, o que pode levar a avanços significativos na medicina de precisão. Espera-se que haja um crescimento ainda maior na compreensão das interações genéticas complexas que influenciam a saúde humana. Ao mesmo tempo, o custo do sequenciamento genético continuará caindo, o que permitirá que cada vez mais pessoas tenham acesso a todos esses avanços futuros. Novas tecnologias como a epigenética e a biópsia líquida trarão ainda mais ferramentas para um cuidado preventivo à saúde.
Como qualquer outra tecnologia que envolve grande volume de dados, é fundamental que os dados genéticos sejam manuseados com segurança, responsabilidade e ética, algo que prezamos muito na Genera.
EM: Você pretende lançar um segundo livro?
Ricardo di Lazzaro: A experiência de escrever meu primeiro livro foi incrível! Tenho algumas ideias e a vontade de publicar um próximo, mas por enquanto nada iniciado.
EM: Alguma mensagem final?
Ricardo di Lazzaro: Por mais que os testes genéticos da Genera e, agora, o livro estejam ajudando a popularizar a genômica, estamos ainda só no início dessa revolução. É esperado que milhões de brasileiros tenham seu DNA sequenciado nos próximos anos e possam compreender mais sobre si mesmos, sua história e predisposições!