O planeta Terra está batendo recordes de temperaturas nunca antes registradas pela humanidade. A temperatura média já superou 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, segundo conclusões da revista científica Nature Climate Change. A confirmação deste dado questiona a meta do Acordo de Paris, maior tratado global sobre o clima.


A crise climática, com eventos extremos, tem sido refletida de diferentes maneiras em toda a sociedade. Estamos vivenciando no Rio Grande do Sul a maior catástrofe ambiental ocorrida no Brasil. Até o momento, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes em 450 municípios, quase 90% do estado. Cerca de 435 mil pessoas estão sem luz e 884 mil sem água.

 


Uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra que, dos 5.570 municípios brasileiros, 68% declararam não estar preparados para o aumento dos eventos climáticos extremos. Mais da metade (57%) não têm tecnologias básicas. Além disso, com as mudanças climáticas, aumentam as chances de novas pandemias. Por isso, a sustentabilidade precisa estar na pauta do governo, das empresas e da população como um todo.

 






Segundo Fabiano Sant'Ana, um dos mais respeitados especialistas em sustentabilidade e fundador da Domani Global, a interação entre as métricas ESG (ambiental, social e governança) e a utilização de créditos de carbono de qualidade ressalta o impacto significativo que práticas de descarbonização podem ter na sustentabilidade empresarial.


“As empresas estão investindo significativamente em tecnologias de baixo carbono. Isso inclui soluções de energia renovável, como solar e eólica, bem como tecnologias para aumentar a eficiência energética em processos industriais e edifícios comerciais. O Google alcançou 100% de energia renovável para suas operações globais, incluindo seus centros de dados e escritórios. Além disso, a empresa anunciou planos para operar com energia livre de carbono 24 horas por dia, 7 dias por semana, até 2030, um passo além da simples compensação de sua energia com fontes renováveis”, disse Fabiano.

 

Investidores Anjo da GVAngels num encontro sobre ESG e descarbonização das empresas

Divulgação



O especialista esteve presente na última semana em um evento para investidores anjo do GVAngels, em São Paulo. Está claro que a adoção de créditos de carbono e estratégias de descarbonização está intrinsecamente ligada ao fortalecimento das políticas de ESG e ao sucesso sustentável de longo prazo das empresas.


Fundos de Investimentos e Empresas Sustentáveis

 


Os investidores estão cada vez mais atentos à integração de métricas que impactam positivamente as mudanças climáticas nas estratégias corporativas, utilizando várias abordagens para avaliar e integrar essas informações em suas decisões de investimento como a análise de risco e retorno, filtros de investimento sustentável e engajamento acionário.


O GVAngels, formado por um grupo de aproximadamente 350 investidores, ex-alunos da FGV, tem organizado vários encontros desde o início do ano para discutir ações de mitigação à crise climática e inovações tecnológicas brasileiras como suporte.


Wlado Teixeira, Diretor e Membro do Conselho do GVAngels tem notado a piora da biodiversidade marinha nas últimas décadas. “Sou mergulhador desde 1990. Viajo anualmente para mergulhar na Indonésia e outros locais da Ásia, e a deterioração do ecossistema de corais é evidente! Os corais são sensíveis ao aquecimento da temperatura dos mares”, disse.


Para Cynthia Jobim, uma das líderes do GVAngels, a tecnologia tem que auxiliar nos problemas sociais e ambientais da atualidade e os investidores estão cada vez mais atentos aos riscos climáticos e integram a pauta ESG, motivados quer pela conscientização dos impactos econômicos, por políticas governamentais rigorosas ou pela demanda por transparência dos consumidores.


“As startups são muito ágeis em cenários que exigem soluções imediatas. Algumas startups estão trabalhando em sistemas de alerta precoce e prevenção de desastres naturais, usando tecnologias como inteligência artificial e aprendizado de máquina para prever enchentes ou inundações. Esses dados em tempo real podem ser cruciais para identificar e responder rapidamente a eventos ambientais adversos como os que estamos vendo no Rio Grande do Sul”, disse Cynthia.


Além disso, o Brasil está na liderança na divulgação de dados de sustentabilidade e questões climáticas, impulsionado pela recente determinação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Ministério da Fazenda. A partir de 2026, empresas públicas brasileiras serão obrigadas a apresentar relatórios anuais sobre estes temas, alinhando-se com os padrões estabelecidos pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), da IFRS Foundation.


“É crucial que as empresas, tanto privadas quanto públicas, adotem práticas robustas de ESG e gerenciamento de créditos de carbono. Ao fazer isso, elas mitigam riscos de penalidades e fortalecem sua capacidade de captar oportunidades no crescente mercado de sustentabilidade. Esse compromisso com a integridade e a transparência não apenas protege as empresas de consequências adversas, mas também promove um crescimento sustentável e cria valor duradouro para todos os stakeholders”, avaliou Fabiano Sant'Ana.


Várias empresas brasileiras estão incorporando métricas ESG e de créditos de carbono em suas estratégias de governança corporativa, com impacto em políticas de remuneração e tomada de decisão, como Vale, Natura e Banco do Brasil.


“Por outro lado, o Brasil enfrenta desafios significativos em termos de desigualdade social, acesso à educação e saúde. Hoje já existem programas governamentais robustos, como o Bolsa Família, destinados a mitigar a pobreza e promover a inclusão social, bem como nosso sistema público de saúde que, mesmo com suas deficiências, é considerado um dos melhores do mundo para o acesso a população mais carente. A diversidade e a inclusão têm ganhado mais atenção nas empresas, com mais iniciativas para promover igualdade racial e de gênero”, disse Fabiano.


O papel do Governo

 

 


Os governos podem e devem implementar regulamentações ambientais rigorosas, como limites de emissão e padrões de eficiência energética, para impulsionar as empresas a adotar práticas sustentáveis.


“No Brasil, as políticas também podem incluir ações contra o desmatamento e o incentivo a energias renováveis, desempenhando um papel vital na preservação da Floresta Amazônica e na luta contra as mudanças climáticas. Tais medidas são cruciais para enfrentar os desafios ambientais e promover um desenvolvimento econômico sustentável”, enfatizou Fabiano Sant'Ana.


“As práticas de ESG vieram pra ficar. Elas representam uma transformação definitiva para as empresas, tornando-as mais competitivas, e mais aptas a realizarem suas funções numa sociedade em constantes desafios”, finalizou Wlado Teixeira.

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