Às vésperas do debate nacional para mudar os rumos do PT e a direção nacional, a prefeita reeleita de Contagem (Grande BH), Marília Campos, tem a receita dessa renovação e reconstrução. Uma das vozes internas mais críticas, a petista se transformou em referência nacional após conquistar a prefeitura pela quarta vez por meio de estratégia que defende como modelo para o partido. “O PT precisa despolarizar sua atuação e caminhar para o centro”, apontou Marília, numa proposta polêmica que, além de enfrentar resistências, deve sacudir as bases do petismo raiz.

 

A despolarização, segundo ela, deveria ser iniciada já, e não só na próxima eleição. Por isso, decidiu lançar, à revelia e numa posição pessoal, essas duas estratégias: despolarização e expansão da aliança. “Aqui (Contagem), eu consegui despolarizar e ganhar um pedaço. Sei que é um processo lento e gradual. Temos também que nos aproximar do Centro, não apenas como aliança eleitoral, mas como estratégia política para atraí-lo na defesa do Estado do bem-estar social. Muita gente do Centro é liberal e defende o Estado mínimo. Hoje, o que a população mais precisa é democratizar o acesso aos direitos sociais. Isso fortalece a própria democracia”, advertiu, pontuando que ela se enfraquece e fica em risco em função das dificuldades das pessoas em melhorar suas vidas.

 

 



 


Estratégia equivocada



Do ponto de vista eleitoral, Marília disse que o partido precisa apoiar candidaturas viáveis, numa aliança ampla, para crescer no Legislativo e na disputa majoritária. Embora tenha conquistado a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados e a Presidência da República, o PT tem baixa presença nos governos estaduais e municipais. “Ele é pequeno na disputa majoritária porque está com a estratégia equivocada, que é de marcação de posição, de investir na polarização. Então, temos que atrair o centro para um projeto de Brasil, para o estado e os municípios, com desenvolvimento econômico sustentável, justiça social e climática”. Para isso, ela defende esforço maior por aliança ampla nos estados, nas chapas proporcionais (deputados), e do Senado.

 



PT fala mais de Bolsonaro



A esquerda tem que mudar o discurso e a narrativa, na avaliação de Marília Camposa, e defender o seu projeto. “O PT está olhando pelo retrovisor ainda. Tem um setor do partido que só investe na polarização, que fala mais do ex-presidente do que de Lula e do que ele está fazendo”, criticou. Além disso, a prefeita reprovou o “escracho e as piadas” que esses setores fazem da situação de Bolsonaro. “Temos que fazer o discurso de que as instituições voltaram a funcionar. Escracho não contribui para as apurações, estão fazendo a disputa equivocada com a base que apoiou o ex-presidente. Temos que atrair esse pessoal para o lado de cá e não ficar brincando com isso. Deixa o STF resolver”, declarou.

 

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“Quando você polariza, o outro lado se arma e coloca o escudo. Temos que sair disso. O PT tem que fazer a defesa genérica e séria de que crime tem que ter punição. Não pode ter anistia, mas acontece que a militância faz escracho. Isso não ajuda a atrair os setores que estavam com o outro lado. Ao contrário, os coloca na defesa, com escudo. Não podemos tomar o lugar de quem vai julgar”, disse também.



“Queridinha do centro”



Sobre as críticas de que seu discurso seria antipetista, que seria “queridinha do centro”, Marília argumenta que suas ideias e estratégias a levaram ao quarto mandato em Contagem. “Isso é ser uma petista com estratégia diferente. Quem diz que sou antipetista subestima minhas posições e conquistas. O PT precisa de reconstrução não só política, mas orgânica. Alguns reclamam que eu expresso opiniões, mas muitos fazem isso também sem discutir internamente. O PT não é só dos parlamentares, é de seus filiados e eu sou uma filiada e não sou ligada a nenhuma tendência”, disse.



Quebra de barreira no MP



Rompido com a situação e sem ser oposição, Paulo de Tarso representa a terceira via no Ministério Público ao se tornar o primeiro promotor  de Justiça nomeado a procurador-geral de Justiça. Ele comparou sua situação à do governador Romeu Zema, que o nomeou. Em 2018, Zema surpreendeu a todos ao quebrar a polarização política da época (tucano-petista) e ser eleito. O próprio governador reconheceu essa identidade quando o sabatinou no dia 19. Zema sancionou a lei (em 2020), que permitiu a promotores disputarem o cargo, e é o primeiro a nomear um. “Vou ficar marcado na história por ser o primeiro promotor a quebrar essa barreira. Isso me dá muita responsabilidade”, admitiu Paulo de Tarso durante entrevista ao programa Entrevista Coletiva, da Band Minas. Além da escolha de Zema, ele recebeu a segunda maior votação (659) nas eleições do MPMG.



Pedágio, pedágio, pedágio



A prioridade de Zema, hoje, não é privatizar a Cemig e a Copasa, como quer seu vice, Mateus Simões, nem ajudar a aprovar o projeto que renegocia a dívida de Minas, de R$ 170 bilhões, com a União. A pressão maior será pela criação da Agência Reguladora de Transportes de Minas Gerais (Artemig). Sem ela, a cobrança de pedágios fica sem regulação nas estradas que seu governo privatizou.




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