Terminei uma temporada de dez dias em Jacobina, sertão baiano, onde fui implantar uma oficina de costura. Me instalei na Vila de Itaitú, conhecida região com dezenas de cachoeiras da Chamada Diamantina Norte, e me dirigia diariamente para a Aldeia Alto Alegre, uma comunidade quilombola, a 12km dali.
No meio desse ano, passei por lá de carro levando máquinas e todo tipo de material necessário para costurar. Sempre que inicio uma oficina, as condições físicas são precárias, pois, afinal, não faz sentido investirmos muito em uma experiência que pode ou não dar certo.
Tudo o que levo é fruto de doação. As máquinas são domésticas, muitas vezes inadequadas para trabalhar sem parar e serem manuseadas por diversas mãos. Mas, ao final, o resultado é sempre positivo.
Nem todos tem habilidade para o ofício, mas nada melhor que tentar para ter certeza. O mais legal é ver a alegria dos alunos ao se deparar com a peça pronta “feita por mim”. Pouco importa o acabamento a desejar quando pessoas acostumadas a viver à margem da sociedade descobrem que, ao contrário do que muita gente pensa, são produtivas e capazes de façanhas.
Normalmente, fazemos colchas de retalhos, cortinas e toalhas de mesa, peças sempre muito úteis, para treinar a costura reta. Logo no primeiro dia, alguns conseguem levar para casa sua primeira obra de arte o que os estimula a voltar para tentar um próximo desafio.
Acredito que ao menos 40% das pessoas que participam da primeira oficina retornarão na segunda (que ocorrerá ano que vem), quando iniciaremos a confecção de peças de roupas simples e leves. É o passo para ter um ofício capaz de render dinheiro para ajudar no sustento da casa e na elevação da autoestima. Com pouco é possível fazer muito, não só pelo outro, mas por nós mesmos.