Há alguns anos ficamos incumbidos de fazer em nossa casa a festa de Natal da família do meu marido. Depois que tanto o pai quanto a mãe dele partiram, todos acordaram sobre a importância de manter a tradição da ceia, sem necessariamente ter que servir peru e arroz de forno. A maior modificação que fizemos foi em relação à data. A família foi crescendo, agregados chegando, facilitamos para todos comemorando antes do dia 24. Dessa forma, poucos são os que não conseguem participar.
A árvore repleta de presentes deu lugar ao amigo oculto. As sobrinhas passam meses elaborando as brincadeiras capazes de envolver as três atuais gerações da família. Muita provocação e muita risada. Imperdível! Ou não? Logo depois que me casei, nossa casa virou o ponto de encontro dos amigos. Havia um deles que, sempre que convidávamos para algum evento, respondia: “se eu não tiver outro compromisso eu vou”. Sei que ele não falava por mal, mas, com o tempo, fomos deixando de convidá-lo.
Essa é a reflexão que quero deixar aqui. Um dos casais da família do meu marido enviou a seguinte mensagem para ele: “Tio, sobre a confraternização de Natal, precisaremos conciliar. Iremos no evento da empresa onde trabalhamos primeiro e tentar ir para aí depois. Se tudo der certo, conseguiremos”.
Ele respondeu: “Queridos sobrinhos! Se decidirem vir, será uma alegria, um grande prazer. Mas, pelo que percebi, sofrerão desconforto de estarem em dois lugares ao mesmo tempo. Assim queria fazer uma reflexão conjunta, visto que já passei por situação semelhante.
Não é minha intenção ser professoral, muito menos provocar mágoa. Espero ser tão somente lido e compreendido com o coração aberto, visto que pretendo compartilhar um aprendizado de vivências e experiências adquiridas desde a infância até a idade madura. Vamos lá. Fui empregado em uma empresa por 16 anos; professor universitário por 38 anos; sócio-proprietário de uma empresa por 25 anos.
Tive inúmeros amigos no jardim de infância, no ensino básico, na faculdade e por onde andei. Fui respeitado esses anos todos pela maioria dos colegas. Nada além disso. Tudo passou. Ficaram as boas lembranças e amigos de fato conto nos dedos de uma só mão. A verdade é que poucos continuaram andando juntos. Chega a hora em que percebemos que o interesse da maioria dos colegas de trabalho é em relação ao cargo que se ocupa, a informação que se detém ou ao poder momentâneo.
No fundo, não se cogita trocar afeto ou amor genuíno com essas amizades do trabalho. Envelhecemos e naturalmente deveríamos ficar mais sábios. Neste particular, estes que procuraram a sapiência dão mais valor a quem realmente importa . A família é o que mais importa, pode crer. Mas... há coisas que só se sabe quando a idade certa chega. O tempo é quem dita as regras nessa vida. Beijos no coração!”