Há dois meses estou acompanhando a luta de Pedro pela vida. Logo ao nascer contraiu uma bactéria nos pulmões e tem passado a maior parte de seus dias na UTI. Chegou a ir para a casa com os pais uma única vez, por poucos dias, e retornou ao hospital. Sempre que pergunto por ele, a resposta é “está do mesmo jeito.” Ou seja, foi entubado e se alimenta por sonda, ganhou um pouco de corpo, mas permanece a incerteza.


Logo penso na mãe, tento me ver na posição dela. Uma mulher de 35 anos. Pedro é seu terceiro filho, todos planejados e desejados. É formada em enfermagem, o que faz com que compreenda com clareza a situação do filho e todas as suas possibilidades. Porém, a serenidade com a qual se mantém vem arrancando admiração de todo mundo. “Você tem noção da gravidade em que seu filho se encontra?”, chegou a ouvir de uma médica de plantão.


E sim. Ela tem noção, mas não perde a esperança. E o que espera? Que possa ser forte o suficiente para vencer os desafios de cada dia, um de cada vez. Claro que deseja levá-lo para casa com saúde plena, mas está pronta para cuidar dele independente de qualquer resultado.


Nós é que não nos conformamos com a possibilidade de alguém conseguir lidar com calma e resiliência diante de quadros, a nosso ver, desesperadores. Não aprendemos a administrar situações que nos exigem uma enorme força de sustentação porque preferimos acreditar que elas nunca farão parte de nossas vidas.


Assim lidamos com as limitações permanentes, as doenças graves e a finitude da vida. Como se não nos dissessem respeito por mais que nos espreitem a todo momento.

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