Uma avó estava numa praça passeando com sua netinha de cinco anos quando passou por ali, calmamente, um homem com nanismo. Como não havia outras crianças por perto, a menina foi até ele na esperança de ter encontrado alguém do seu tamanho disposto a brincar.


A senhora correu atrás da criança, constrangida, e conseguiu alcançá-la antes que ela o abordasse. Mais tarde, entre algumas amigas da igreja, contou ter ficado com dó da neta, que não entendeu por que havia sido repreendida. “Querida, deixe ele em paz; não é criança como você. É um adulto anão”.

 




Imagino que a menina continuou sem entender nada e se deu por satisfeita assim mesmo, pois desviou sua atenção para outra coisa que se mostrou mais atraente naquele momento. Ou então se lembrou de contos de fadas onde o final é sempre feliz para todos os que estão do lado dela. Sempre que escuto um caso desses penso em quantas oportunidades desperdiçamos quando não aproveitamos situações reais para discutir sobre condições que a sociedade tem que aprender a lidar.


Era hora de a avó sentar-se com a neta e explicar o quão diferente são as pessoas em todos os aspectos, que nem todos são iguais, o que não torna ninguém melhor que ninguém. A ingenuidade infantil não pode ser punida com repreensão, assim como não pode ser mantida como ignorância. Nos iludimos acreditando que as crianças não vão entender; então melhor não dizer nada e deixar pra lá.


Essa indisposição de colocar em pauta temas que fazemos questão de fingir que não nos dizem respeito gera crianças preconceituosas e descriminatórias. Imagino que muitos sairão em defesa da avó, pois ela não agiu por mal. Certamente. Porém todas as vezes em que não fazemos nada para contribuir para a evolução do comportamento social mantemos as barreiras entre o que consideramos “nós” – os perfeitos e normais – e “eles” – os defeituosos e isolados.

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