Acabei de ler Tortura Branca, livro da vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2023 Narges Mohammadi. A ativista e defensora dos direitos humanos no Irã expõe realidade do sistema penal em seu país através de entrevistas feitas com mulheres que estiveram ou ainda estão encarceradas sem bases legais sob a acusação de fazerem propaganda negativa da República Islâmica do Irã. A maioria delas foi detida sem ao menos ser informada sobre qual crime cometeram. Elas são “prisioneiras de consciência”, ou seja, pessoas presas por expressarem suas ideias e convicções de maneira pacífica, ou em decorrência de raça, etnia, religião e orientação sexual consideradas impuras.


Além da própria autora, treze presas políticas contam suas experiências principalmente em condições de completo isolamento onde vivem meses e anos sofrendo violência física e psicológica. A expressão Tortura Branca designa um tipo de coerção que consiste em submeter prisioneiros a privação de todos os estímulos sensoriais por longos períodos através de técnicas de confinamento solitário e interrogatórios.
Cada depoimento choca por nos chamar a atenção para as terríveis condições nas quais elas e outros tantos detentos vivem. Mas, ao final, apesar da revolta que a leitura gera, o que fica são os exemplos de fibra, coragem e fé de cada uma delas. A maior vingança é, apesar de tudo, permanecerem vivas e fiéis a tudo aquilo em que acreditam.


Cada vez que se recusam a gravar depoimentos nos quais deveriam se mostrar arrependidas de saírem em defesa dos direitos individuais, em defesa das mulheres e na promoção da verdadeira justiça, elas são castigadas e impedidas de ver uma fresta do sol; muitas vezes vão ao banheiro apenas uma vez ao dia em horário pré-determinado e ficam sem banho por muito tempo. São impedidas de receber visita da família por longos períodos enquanto chegam aos seus ouvidos informações falsas sobre o estado de saúde e o paradeiro de seus companheiros, pais e filhos.


Narges Mohammadi, que em novembro de 2021 foi presa pela décima vez, inicia o livro dizendo “Escrevo esta apresentação nas últimas horas da minha saída temporária. Em breve, serei obrigada a voltar à prisão […] Desta vez fui considerada culpada por conta do livro que você tem em mãos…

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