Há alguns dias cheguei ao Malawi, pequeno país africano, que faz divisa com a Tanzânia, a norte, Moçambique, a leste, sul e sudoeste, e Zâmbia, a oeste e noroeste. Considerado o sétimo país mais pobre do mundo, tem um salário-base de 50 mil kwacha, o equivalente a 25 dólares por mês, sendo que grande parte de sua população não tem trabalho formal e vive da agricultura de subsistência.
Aqui as chuvas se concentram nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, tornando atividades como o plantio e a criação de animais precárias. Proteínas como carne e ovos são luxo por aqui. Come-se basicamente milho e alguns vegetais. As famílias são numerosas, os casamentos ocorrem cedo, muitas vezes antes mesmo de se completar a maior idade.


O índice de analfabetismo é alto, mais da metade da população não sabe ler e escrever. Isso porque o número de vagas em escolas públicas é insuficiente para atender a demanda e a necessidade de usar a mão de obra infantil em casa afasta ainda mais as crianças das salas de aula. Em aldeias maiores, se obtém água através de um poço artesiano central, onde todos enchem galões de plástico para abastecer seus lares. Nas aldeias menores, é preciso caminhar até o rio mais próximo.


Por aqui se morre muito por problemas na barriga, como eles dizem, que pode significar uma gama enorme de doenças e problemas que ocorrem no abdômen. Não é fácil fazer um diagnóstico preciso em um local onde não há acesso fácil ao sistema de saúde, onde é preciso ir longe e pagar caro para fazer um simples hemograma, o que dirá uma cirurgia de rotina.


O que me traz aqui é o trabalho humanitário. Desde 2019, coordeno uma oficina de costura a cerca de 50 quilômetros da capital, onde a ONU mantém um campo de refugiados de guerras e conflitos africanos. Em nossas escolas, estudamos superficialmente a exploração e a colonização europeia nesse continente e preferimos nos manter desatualizados sobre suas consequências. Preferimos acreditar que isso é coisa de séculos passados e que países como este se mantêm na pobreza por problemas que não nos dizem respeito. Nosso maior ganho ao vir aqui é perceber que somos todos interdependentes e que ninguém, nenhum povo, por mais autossuficiente que pareça, é capaz de evoluir sozinho.

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