Eu e meu marido estamos passando uns dias na casa do nosso filho mais novo, que mora nos Estados Unidos. Ao tentar nos explicar onde pegar o metrô ou os lugares que seriam mais interessante irmos de bicicleta, ele pegou um bloco de papel, uma caneta e um marca texto amarelo. Começou a escrever detalhadamente e a destacar as informações mais importantes, como eu fazia quando ele era criança e me procurava para tirar alguma dúvida em relação aos trabalhos escolares. Fiquei olhando aquela cena sem saber o que pensar e acabei rindo.


“Mas filho, porque você não escreve no WhatsApp?”, perguntei, surpresa, até porque há muito tempo eu não via aquele tipo de bloco. “Vou escrever no papel porque sei que você não vai perder. Eu já te mandei meu endereço mil vezes pelo WhatsApp e você vive me perguntando de novo. Imagine informações novas?” Rindo mais ainda, tentei explicar que chega uma hora em que apago as mensagens antigas e que, certamente, o endereço dele deve estar salvo em alguma pasta. Como eu ia demorar demais para achar, achei mais fácil perguntar novamente. “Eu sei que o papel você vai encontrar dentro da sua bolsa com facilidade.” E ponto. Tô com a bolsa cheia de papéis pautados escritos com uma letra que reconheço com facilidade e sei que vou guardar todos eles enquanto estiver viva.


Vão para a pasta de papelão, modelo do tempo em que iam para a escola, onde guardo coisas escritas por eles. Esta pasta sei direitinho onde está. Lá também se encontram os bilhetinhos que meu pai tinha mania de escrever para mim como as listas de supermercado ou sacolão.


Durante a pandemia, era minha função fazer as compras para ele e minha mãe que ficaram presos dentro de casa. Ao fim de cada lista, ele sempre escrevia uma frase que, na época, arrancava-me um sorriso e agora uma saudade: “compra alguma coisa pra você”, “traz magrelinho (referindo-se a um biscoito de polvilho comprido e fino que ele dizia que gostava, mas quem comia o pacote quase todo era eu) ou “tô com vontade de pular quebra-mola” (isso porque, dependendo da pressa, não paro em alguns e ele se divertia com o pulo do carro).


Meu filho tem uma pasta semelhante cheia de cartões enviados por amigos, todos escritos a mão. Eles preservam o hábito de mandar cartões de aniversário e outras datas comemorativas. Por um tempo, os exibem presos a ímãs de geladeira. Bons hábitos que muitos de nós estamos perdendo.


Enviar mensagens através da internet dá menos trabalho, chega mais rápido e exige quase nenhum esforço. Ideal para conteúdos que não exibem afeto. São impessoais e podem ser redigidos por qualquer um, até porque tem um corretor que padroniza tudo, evitando erros de grafia, que fazem parte de nossa identidade textual. Mas, para ter história pra contar, nada como algo que se possa tocar não apenas com as mãos.

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