Participei de uma experiência fascinante ao conhecer a foz do Rio Doce, em Linhares, no Espírito Santo. Em novembro de 2015, quando do rompimento da barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, a lama tóxica seguiu o leito do rio até chegar ao Oceano Atlântico. Lá estão localizadas Regência Augusta e Povoação, vilas que tiveram suas rotinas totalmente modificadas. Considerado o maior desastre ecológico ocorrido em nossas terras, deixou traumas insuperáveis.

 

 


A população precisou encontrar novos caminhos para seguir no local, visto que atividades fortes como a pesca e o turismo ficaram suspensas por um bom tempo até que pudessem retomar o fôlego. Nessa época, Ronaldo Fraga assumiu a curadoria do projeto “E o que dizem as águas?”, levando consultores de gastronomia, moda e artesanato aos dois povoados.


O resultado desse trabalho agora pode ser visto através de expedições que os irmãos Thiago e Pablo Buriti, da Q-Visu, promovem. A Vivência Foz do Rio Doce convida a não apenas conhecer os lugares, mas tornar-se parte deles. Vai-se onde o turista desavisado jamais imaginaria ir; experimentam-se rotas que fogem do convencional, ricas em sentidos.

 


Apaixonada por tradições, culturas e lendas locais, me esbaldei conhecendo e vivenciando a diversidade da região. Não apenas visitamos a Oficina Orelha de Pau, como também fizemos uma casaca, instrumento musical que mais tarde usamos na apresentação com o Grupo de Congo de São Benedito. O almoço foi no restaurante Comida de Mãe, onde dona Adélia recebe na varanda e faz com que a gente se sinta na casa da vovó.

 




O passeio de barco pelo Rio Doce, com direito a lançar em suas águas barquinhos feitos de madeira, onde escrevemos mensagens cheias de otimismo tanto para aquele paraíso em reconstrução quanto para nós, é um momento que convida à reflexão. Noites regradas a cerveja e drinques locais (destaque para o mel de cacau), apresentações musicais (com direito a sambar), seguir junto com o Grupo de Folia de Reis, conhecer o projeto desenvolvido pelas mulheres para retomar a criação de tilápias, ouvir um ex-pescador falar com paixão sobre seu novo ofício (a criação de abelhas sem ferrão e cultivo do mel) e conhecer uma fazenda de cacau ficarão em minha memória por muito tempo.

 

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Tivemos também a chance de caminhar tarde da noite pela areia da praia, na tentativa de cruzar com tartarugas gigantes à procura de fazer seus ninhos para desovar. Vivências assim chegam para dar novo sentido ao turismo, que deixa de focar no consumo e nos presenteia com experiências, tesouros vivos, que ninguém roubará de nós.

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