Politicamente desinteressada de enfrentar o terror, a resolução proposta pela República de Malta – um país-arquipélago europeu, situado no Mediterrâneo – e aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, falha em seu dever primordial de assegurar a paz. Escrevendo, como se não soubesse ler, que “as partes envolvidas no conflito devem cumprir com suas obrigações perante as leis internacionais”, iguala, com irrisão, facção terrorista a Estado Nação. Torna-se um documento auge do fracasso da diplomacia e da imaginação democrática diante do maior inimigo da liberdade.

Sem querer penetrar na crosta de desumanidade da organização terrorista para enfrentá-la no auge do seu triunfo, toma o cuidado de não gerar controvérsias com o Hamas e seu catálogo de transgressões. Livra-se da culpa fingindo não se omitir. Tão aquém da gravidade dos acontecimentos, usa o substantivo plural crianças como chavão para frear as correntes hostis de sentimento que provoca.



Não é hora para cerimônias nem de se entregar ao esporte ideológico de solapar a moral da própria ONU em Gaza, que vê morrer centenas de seus membros. Mas é trágico ver adultos com autoridade gostarem de ser tapeados. O centro do desastre contra o terror é a vacilação dos virtuosos contra a torpeza dos fanáticos. Só entendendo o cérebro deles é possível usar com eficácia o poder para derrotá-los. Uma democracia, mesmo governada por autoritários, estará sempre passos atrás de seus inimigos que aproveitam das distrações próprias dos regimes de liberdade, espetáculos culturais, diversidade, religiosamente pluralistas e abertos, para buscar desmoralizá-la.

Dissociado das circunstâncias, divulgadores de venenos, intrigas, cheio de grupos de pressão, interesses, dominado pelo tom inamistoso da política, o que que resta é um mundo onde falta um objetivo estratégico geral das democracias para condenar, enfaticamente, o ultraje praticado contra o Estado de Israel, mesmo não apoiando seu governo politicamente. Só assim as democracias poderão recuperar a iniciativa de poder dizer que querem proteger a população civil.

A completa aceitação da atitude defensiva contra o terror, vê-lo como marcha natural dos acontecimentos políticos no Oriente Médio, a decisão de não lhe quebrar o poder, costuma ser própria dos calculistas que não compreendem o futuro. Quando a coisa engrossar de vez, se avolumar, atravessar fronteiras, se unir à criminalidade interna dos países, será tarde para se dizerem surpresos com a vulnerabilidade dos sistemas democráticos, legitimamente eleitos, com mudanças governamentais regulares. São imensas as consequências nefastas das maquinações políticas que movem as nações do mundo. A paz, formulada por decisão errada, é inconsequente.

Ninguém vai dividir a cura com alguém que esquartejou. Resignação, conciliação, funcionar em um vaivém descontínuo e irregular faz as democracias ficarem à mercê do terror. Não é possível imaginar que o Hamas passará a estimar as crianças palestinas mais do que não estima as judias ou israelenses. Não há espiritualidade verdadeira ao discriminar seres humanos por causa de sua origem étnica, especialmente crianças que não podem ser medidas por nenhuma outra medida senão a do amor. É um diletantismo ideológico querer se fazer benfeitor de alguém escolhendo um dos lados do conflito.

O maior equívoco dos democratas é querer dar ênfase a princípios elementares que norteiam a vida. O que é simples é claro, meio tolo, até ingênuo. Mas a política internacional e sua diplomacia não são simples, claras nem ingênuas. Há delitos de impostura por trás do humanismo que só reconhece o sofrimento do outro se for possível dar ao fato um título pomposo que permita arregimentar simpatia. As crianças são os únicos seres cuja altivez silenciosa não as protege da maldade dos adultos. É uma zombaria pedir ao terror que as degolou em Israel alguma sombra de reparo que as proteja em Gaza.

O sofrimento das crianças é muito maior do que o sofrimento geral, mas quem pode deter o sofrimento geral, e não o faz, não devia usar da inocência de seres totalmente distintos da maldade humana, seres da natureza dos anjos. É um assombro demonstrar pesar pelas crianças para reduzir a abrangência da responsabilidade do Hamas pelo seu padecimento. As crianças não têm culpa de nada e não podem ser castigadas por quem não as protege de quem as castiga. Quem mata os filhos de um lado desprotege os filhos do outro.

Odiar os judeus motiva mais o terror do que amar os palestinos. Acorda, ONU!! Será que já não há absurdos demais em todos os países para incorporar mais fanáticos no formigueiro do sofrimento humano?

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