São seis os países onde o sistema político concentra em um único partido todo o poder sobre o governo. Historicamente, as duas principais vertentes desse tipo de sistema ocorreram em países fascistas e comunistas. Uma terceira vertente, mais variada, vem de países subdesenvolvidos e teocracias islâmicas.


Na atualidade, regimes oficiais de partido único são os da China, Vietnã, Coreia do Norte, Laos, Cuba e Eritreia. Há ainda uma enormidade de casos de nepotismo autoritário contínuo, um uni partidarismo de facto, especialmente na África.


A mais importante e bem-sucedida experiência de partido único é a do Partido Comunista da China (PCCh). Fundado em 1921, o PCCh comanda o país desde 1949. Com uma profusão de planos e projetos estruturantes, o PCCh desenha uma série de objetivos a serem alcançados até a celebração dos 100 anos de fundação da República Popular da China em 2049. Por volta da metade da década que vem, a China ocupará o posto de maior economia do mundo em todas as mensurações possíveis. E buscará se estabelecer como país mais influente internacionalmente.


Um exagerado entusiasta da experiência política chinesa, o cientista político Eric Xu Li, argumenta que o uni partidarismo sob o PCCh criou a meritocracia partidária que funciona melhor do que as experiências pluripartidárias eleitorais do Ocidente. Li aponta para o rigoroso processo de seleção e treinamento por que passam os burocratas e políticos chineses. E provoca: só a democracia eleitoral dos EUA permite que alguém com o currículo complicado de George W. Bush e inexperiente como o de Barack Obama, virem presidentes. Na China teriam dificuldade de serem indicados para chefiar qualquer condado dentre os cerca de mil e trezentos existentes no país. Exageros à parte, é verdade que apesar de clientelismos e favoritismos próprios da dinastia comunista, o PCCh conseguiu instituir um sistema de carreira com méritos na atração, treinamento e promoção de talentos.


O Vietnã é outro estado comunista de partido único. O país tem visto seu IDH, ainda baixo, convergir ano após ano ao IDH de países como o Brasil. Seu PIB também vem crescendo rapidamente. No momento, seu partido comunista passa por acaloradas disputas internas e ainda não elegeu um novo presidente.


Já na Coreia do Norte o poder está concentrado de forma dinástica nas mãos da família Kim. É o regime mais disfuncional e totalitário do planeta. Observadores do país afirmam que o atual ditador prepara sua filha, Kim Ju Ae, para sucedê-lo.


Por sua vez, o Laos é um país que sofreu horrores no século 20. Seguramente o país que mais bombardeios recebeu por habitantes em toda história. Hoje, os principais cargos políticos são ocupados por Thongloun Sisoulith. A economia está cada vez mais ligada à China, através de financiamentos, investimentos e comércio.


Aqui na América Latina, Cuba vai se mantendo e se reinventando desde quando as forças do líder Fidel Castro entraram em Havana no início de 1959. Com a morte de Fidel, o poder foi deixando aos poucos as mãos da família Castro. O atual presidente da república, Miguel Díaz-Canel, procura implementar reformas importantes. Se os EUA e Cuba fizessem as pazes, normalizando suas relações, algo fundamental ocorreria no Caribe e teria apoio mundial. Aliás, o que a Assembleia Geral da ONU mais aprova sobre um mesmo tema desde 2016 é a resolução que pede o fim do embargo econômico dos EUA sobre Cuba.


Por fim, a Eritreia, localizada no ora conturbado Chifre da África, é governada pela Frente Popular por Democracia e Justiça, que, por sua vez, é controlada desde sempre por um homem, Isaias Afwerki. O país ganhou sua independência da Etiópia nos anos 1990. De lá para cá a região segue bastante instável. Para muitos observadores, um dos conflitos internacionais mais próximos de acontecer seria uma nova guerra da Etiópia com a Eritreia. Uma disputa que agora gira em torno do acesso ao Mar Vermelho pela Etiópia, país que não tem região costeira.


A análise feita pelo sociólogo ítalo-germânico Robert Michels sobre os “Partidos Políticos”, livro publicado em 1911, não perdeu toda a validade. A Lei de ferro da inteligência partidária, mesmo nas democracias, lembra muito o funcionamento de oligarquias. Em países presidencialistas ou parlamentaristas, onde a representação dos cidadãos é baseada no multipartidarismo, a prática partidária “reproduz as relações de exploração, de silenciamento e de exclusão que essas organizações combatem na sociedade e no Estado”. Partidos políticos refletem sociedades partidas. Se partido único é insuportável, partido sem dono é inalcançável. Asfixias do sistema político mundial.

compartilhe