Após quatorze anos ininterruptos de controle do Partido Conservador sobre o governo britânico, os ventos da política sopram à esquerda sobre a ilha de Albion. As eleições municipais realizadas no início de maio foram uma primeira concretização do prenúncio de que os humores dos eleitores britânicos não estão favorecendo aos conservadores.


O Partido Trabalhista saiu como maior vitorioso das eleições municipais, conquistando as prefeituras de Londres e de Manchester, as duas maiores áreas metropolitanas do país. A primeira sendo o principal centro urbano do sul da Inglaterra e a segunda o principal centro urbano do norte inglês.


Os trabalhistas ainda conquistaram a região central da Inglaterra, com a terceira maior região metropolitana do país. Foi justamente essa a maior surpresa da eleição. A vitória trabalhista para a prefeitura da região de West Midlands. Uma região cuja maior cidade é Birmingham e a cidade mais culturalmente famosa é a pequena Stratford-upon-Avon, local de nascimento de William Shakespeare, o mais vasto e criativo escritor de todos os tempos.


Seja para onde se olhar, foi uma lavada. Hoje, o Partido Trabalhista, que ainda é o partido de oposição em Westminster, sede do governo central britânico, governa onze das doze áreas metropolitanas que elegem diretamente seus prefeitos. Só sobrou uma para os conservadores, e uma não entre as principais.


Como o Reino Unido é um estado unitário com tradição de gestão local liderada por conselhos, historicamente o cargo de prefeito era majoritariamente cerimonial e decidido pelo voto dos conselheiros, esses sim eleitos diretamente. De uns tempos para cá, com o processo político inglês de “devolução” do poder do governo central para as localidades, a figura do prefeito eleito diretamente entrou na moda e se vestiu de significativo poder. Mesmo assim, existem apenas outros treze prefeitos eleitos diretamente para além dos doze das áreas metropolitanas. De todo modo, essas prefeituras eleitas diretamente estão preponderantemente trabalhistas. Diferente do que se passa no governo central.


Desde quando Ramsay MacDonald assumiu nos anos 1920 como o primeiro-ministro inaugural do Partido Trabalhista, o paartido da rosa vermelha teve apenas seis primeiros-ministros. É pouco, considerando que desde aquela época os trabalhistas se mantiveram como um dos dois maiores partidos políticos do país. E o Partido Conservador, por sua vez, maior força política do país, dos anos 1920 para cá teve quinze primeiros-ministros.


A derrota dos Tories, como são chamados os conservadores, caiu no colo do primeiro-ministro Rishi Sunak. Em tal situação de patente rejeição popular, normalmente emergiria um contendor de dentro do Partido Conservador para desafiar a liderança de Sunak e reanimar o partido. Entretanto, não é o que se vê. Sobra apenas desânimo e consternação entre os Tories, que terão que enfrentar uma eleição nacional dentro dos próximos meses. Todos os políticos com chance de se tornarem líderes dos Tories querem que o anunciado fiasco nas próximas eleições siga no colo de Sunak. Para só então depois de passada a tempestade se aventurarem a disputar a liderança do partido.


Pela lei britânica, no mais tardar em 28 de janeiro de 2025 ocorrerá a eleição para as 650 cadeiras da Câmara dos Comuns do Reino Unido. O partido que obtiver a maioria dos assentos – levada em consideração eventual necessidade de se construir uma coalizão para formar tal maioria – indica o primeiro-ministro. Dados os rumos dos ventos atuais, a cara da vez é Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista. Quando indagados em março se “Starmer se tornará Primeiro-Ministro em algum momento”, 66% dos entrevistados britânicos responderam que “provavelmente sim”.


E talvez ainda esse ano. Afinal, a maioria dos observadores acredita que a eleição se dará no segundo semestre de 2024. O fato é que a eleição pode ser convocada e marcada para qualquer data que o primeiro-ministro julgar conveniente, respeitado o prazo limite de 28 de janeiro de 2025. De toda forma, hoje os trabalhistas, que lideram as pesquisas desde 2021, têm uma vantagem de vinte pontos percentuais contra os conservadores nos levantamentos para a eleição nacional. E a distância de vinte pontos mantém-se estável desde o final de 2022.


Adequado aos tempos instáveis atuais, Starmer levou seu partido ao centro moderado desde que assumiu sua liderança, alijando correntes mais à esquerda do trabalhismo. Seu foco é em vencer as eleições e governar com mais eficiência do que os governos recentes. Os ventos a bombordo sopram a favor.