Pai, substantivo masculino, é um exemplo concentrado do comportamento humano ao longo da história. Fonte de energia, lisonja, admiração, decepção, em relação aos filhos, naturais ou adotivos, é sempre exposto a olhares críticos e implorantes. Desde a antiguidade, no oriente ou ocidente, se comemora a importância deste homem que não deveria se desviar do seu caminho, fatigar-se, infringir leis, sem entender porque muitos se perderam.

 

Função repleta de expectativa, simpatia, esperança e proximidade assusta ver o declínio de seu papel e o descuido que o Estado dá à sua importância na vida da sociedade. Os conflitos pessoais, cada vez mais exteriores à família, se agravam pelo mundo e atingem mais e mais a função paterna. E a família, a mais antiga instituição humana, por vontade ou destino, ainda não foi substituída por melhor forma de associação entre pessoas vivendo como parentes. Seja observando fatos, ou penetrando em sua verdade, a família configurou de forma objetiva a vida em parceria. E deu ao ser humano a consciência de sua necessidade. Por isso, qualquer que seja o sofrimento, a alegria e as mudanças que a envolve todos seus membros podem trazer felicidade a uma casa.

 



 

Este artigo, sobre um personagem desta importância, será mais justificado se lido pelo sentimento que aborda do que por querer compreendê-lo ao pé da letra. A autoridade, função e responsabilidade paterna fazem parte da condição humana. Em diferentes datas os países comemoram o Dia dos Pais e histórias emocionantes envolvem pais jovens, velhos, com muitos ou poucos filhos. Uma delas, baseada em conflitos entre pai e filho, levam os dois a se separarem, se reencontrarem e tragicamente se despedirem. Professor de história que fui, o fato histórico que lembro é a tragédia que ocorreu há 50 anos. Por motivos pessoais, de geração, políticos, nacionais, religiosos, legais, filho e pai se desentendem e só se reaproximaram quando foram injustamente condenados e os dois são presos em uma mesma cela. Em virtude de erro judicial, a partir de provas fabricadas, o filho, considerado culpado e o pai, que foi ajudá-lo a organizar sua defesa, também é condenado e morreu preso como cúmplice.

 

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Na Irlanda do Norte e na Inglaterra, em 1974, o operário Giuseppe Conlon e seu filho Gerard Conlon, o Gerry, viviam no meio da violência de uma Belfast empobrecida e em luta com a Inglaterra. Envolvido em arruaças, estava sempre em conflito com o pai, conservador e religioso.  Gerry então decidiu sair de casa. E como um jovem hippie, mais pobre do que rebelde, foi para a Inglaterra em busca de emprego e por lá viveu nas ruas em comunidades. Foi acusado de ser terrorista do IRA, Exército Republicano Irlandês e responsável, com quatro amigos irlandeses, por jogar uma bomba em um pub de Guildford, nos arredores de Londres. Gente inocente morreu.

 

 

Presos sem prova, foram obrigados a assinar a confissão de culpa. Seu pai, que acreditou na inocência do filho desde o início, começou a lutar pela sua defesa. Não demorou para que toda a família também fosse presa. Junto com o filho, condenado à prisão perpétua, o pai passou mais de 10 anos na cadeia. 15 anos depois, sem nenhuma vergonha no rosto, um Tribunal de Apelação de Londres anulou as sentenças dos “Quatro de Guildford”. E somente 30 anos depois – talvez porque um dos acusados tenha se casado com a filha de Robert Kennedy, o político norte-americano – o primeiro ministro britânico Tony Blair pediu perdão aos condenados pelo erro da Justiça inglesa. Mas o pai, Giuseppe, nunca soube disso. Em nome do pai, Gerry lutou até morrer contra o estigma de criminoso que, na alma, nunca mais pode ser reparado.

 

 

Tudo o que os sistemas políticos e judiciais do mundo vêm fazendo de forma mais costumeira – e em alguns países a rotina não é a justiça, mas a injustiça – é praticar injustiça contra inocentes e desorganizar a vida das famílias. Em algumas regiões e bairros de qualquer país há um ambiente surdo de guerra civil, roubos e assassinatos. O Estado, quando defende a si mesmo e não pune seus membros que cometem crime, é um peso na cabeça de um pai trabalhador, empresário, profissional liberal ou que outra atividade tenha. O lado inconveniente da injustiça na vida, nas reações e na emoção de um pai, não interessa a nenhum sistema de poder. Falar de uma mentira é promovê-la, sofrer injustiça é adoecedor. O tamanho da desagregação na vida de pais e filhos, causada pela má política, educação, economia e a falta de decoro da justiça promovida pelo próprio Estado, não tem levado os governos a sentirem responsabilidade pelo sofrimento familiar moderno.

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