O futebol captura a atenção e as emoções de bilhões. Ele é o esporte mais popular da Terra, praticado e seguido com fé na Europa, América do Sul, África e partes da Ásia. A Copa da FIFA é o evento esportivo mais assistido do mundo. Se a estratégia for bem alinhada a Copa do Mundo de Clubes da FIFA também pode seguir nesse caminho.

Os campeonatos de futebol mundo afora geraram um grande mercado e uma admirável rede de interconexões. As decisões de seus participantes, tanto administrativas quanto no campo, são impactadas por princípios econômicos e têm efeitos sociopolíticos relevantes. Sendo assim, quem observa com atenção o agregado de suas conexões micro tem razão em concordar com o dito de que o futebol seria a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes.

Indo além da paixão pelo esporte, é curioso examinar como fatores financeiros influenciam cada aspecto, da contratação de atletas às jogadas executadas em momentos críticos. É também notável que mesmo com o atual contexto de retração da globalização, o futebol siga se globalizando cada vez mais. Enquanto muitos mercados do mundo vêm se desglobalizando por causa das redes de interconexão praticada por países e atores fora da lei, o futebol aumenta sua integração global. Aliás, entramos na fase de consolidação transnacional dos clubes.

Após o Brasil ficar meio à margem do movimento de entrada de investidores estrangeiros atrelados aos petrodólares que ocorreu na Europa nas últimas décadas, o país hoje está acompanhando de perto os passos de consolidação transnacional dos clubes, os quais passam a existir sob o guarda-chuva de grupos empresariais de atuação internacional.

Os grupos empresariais que detêm múltiplos times de futebol ao redor do mundo são um fenômeno crescente, com empresas e investidores adquirindo clubes em diferentes países para diversificar seus investimentos e aumentar o alcance global de suas marcas. Entre os principais grupos que controlam vários clubes de futebol, alguns se tornaram conhecidos dos brasileiros nos últimos anos. Como, por exemplo, o City Football Group (CFG), que comprou o Bahia, o Red Bull GmbH, que adquiriu o Bragantino, e a Eagle Football Holdings, que atualmente está à frente do Botafogo.

A performance dos três clubes citados acima vem melhorando desde o momento de suas incorporações nas estruturas de gestão transnacional. Há, contudo, também o caso dissonante do Vasco, o qual parece ter entrado em uma fria em sua associação ao 777 Partners, um grupo estadunidense de investimentos que tem aumentado sua presença no futebol, mas é visto como bem enrolado.

Dentre as experiências positivas, destacam-se aquilo que o Botafogo já está conseguindo colocar em prática e aquilo que se espera que o Bahia passe a mostrar talvez já a partir do ano que vem. O time da estrela solitária teve sorte que o dono da Eagle Football Holdings, que detém a SAF do clube, se mostra apaixonado pelo Botafogo e põe em prática ações com uma visão arrojada sobre seu potencial. Há décadas o Botafogo não tinha uma equipe tão boa quanto a que tem hoje. E, a continuar assim, os retornos financeiros vão crescer daqui para frente. É claro que para além da sorte da estrela, o Botafogo é o clube brasileiro que escreveu o melhor contrato de SAF até aqui: por ele, a Eagle Football Holdings tem a obrigação de fazer o time de Garrincha campeão dos principais campeonatos.

Além da atração de investidores internacionais com mais apetite para inovar nas formas de se fazer dinheiro com futebol do que nossos financistas preguiçosos de baixa produtividade – ricos sombra e água fresca dos juros altos –, o processo de transnacionalização dos clubes também tende a influenciar a forma como os clubes brasileiros operam no mercado de transferências. Já vemos como grupos globais podem facilitar o intercâmbio de jogadores entre clubes sob sua administração, abrindo portas para uma maior integração entre ligas e mercados antes distantes.

Essa nova realidade traz à tona a necessidade de uma adaptação constante dos clubes às práticas de gestão mais profissionalizadas e aos esforços de potencializar as diferentes vias possíveis de comercialização do produto futebol. O desafio será equilibrar a identidade local dos clubes com as exigências globais desses grupos empresariais que podem, inclusive, ser seguidos e suplantados por investidores locais capazes de se globalizar. E isso tudo sem perder a conexão com suas torcidas e tradições regionais, além das garantias contratuais de que tudo será sempre feito visando e promovendo o engrandecimento do futebol no mundo.

Sendo assim, a transnacionalização do futebol em meio à globalização da guerra é boa notícia, na medida em que pode promover a paz e intercâmbios favoráveis para várias partes assimetricamente posicionadas no tabuleiro global. 

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