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Paulo Delgado
Paulo Delgado
RELAÇÕES EXTERNAS

União Europeia e as sauvas do Mercosul

Se o acordo tem pontos a serem renegociados, eles devem favorecer aos países do Mercosul sem prejudicar o aumento da pujança dos europeus. O comércio internacio

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Como afirmamos no artigo passado, mesmo com os ganhos totais pendendo a seu favor, os europeus são vorazes para assegurar vantagem até nas poucas coisas em que temos alguma vantagem natural. A Itália, por exemplo, acabou de se manifestar, após a conclusão da negociação, que quer renegociar partes do acordo para melhor proteger seus interesses agrícolas. Trata-se de um apoio à chiadeira francesa, que agora, com a adesão italiana, alcançará o número mágico da população do bloco europeu necessário para barrar um acordo desse tipo.

 

 

Se o acordo tem pontos a serem renegociados, eles devem favorecer aos países do Mercosul sem prejudicar o aumento da pujança dos europeus. O comércio internacional não é para improvisações e amadorismo. É sempre bom lembrar dos empecilhos colocados por nós mesmos diante das nossas tentativas domésticas de crescimento e desenvolvimento.

 


Fica evidente que a sorte do país independe dos benefícios ou malefícios entregues por potências estrangeiras se nove cidadãos brasileiros decidem, paternalisticamente, proteger a economia – de quem? – e elevar os juros do Brasil para a posição de segunda maior taxa de juros reais do mundo. Diretores indicados por dois governos diferentes, o que evidencia uma paralisia intelectual abrangente e crônica em um país que enfrenta dificuldades para formular estratégias voltadas à melhoria da vida dos cidadãos vistos coletivamente.

 

 

Temos um país colonizado por rentistas financeiros que, em grande parte, estão localizados no próprio país. Afinal, alguém achar normal o Copom se reunir e informar, com a falsa segurança dos acadêmicos teóricos, que aumentará em 3 pontos percentuais a taxa de juros de um país com inflação abaixo de 5%, espanta até o mais ousados dos rentistas estrangeiros.

 

Tal atitude é de quase uma desfaçatez. Se a doença é terminal o Cupom é o hospital que não dá alta para manter o país na UTI dos juros altos e bom para poucos. Escorados no pretexto de uma crítica sobre o tamanho da febre da dívida pública aumentam os juros que são o fator de maior impacto sobre o crescimento da própria dívida. Estapafúrdio e sem lógica.

 

 

Para ficar claro: o estoque total de passivos de dívida emitidos pelo governo geral como proporção do PIB no Brasil segue na mesma casa de China e Índia, outras economias comparáveis dos Brics – na casa de 85% –, e muito abaixo do que o que ocorre na Europa e na América do Norte, onde a relação dívida/PIB está consistentemente acima de 100% – logo, pediriam juros mais altos. Todos, inclusive indianos e chineses, têm taxas de juros muito mais baixas do que as do Brasil.

 

Mas tudo sempre foi culpa nossa desde que um botânico francês, Auguste de Saint-Hilaire, observou que as saúvas, formigas cortadeiras, acabariam com o Brasil se o Brasil não acabasse com elas. Saint-Hilaire ficaria feliz em constatar que, com a engenhosidade da Embrapa e a força de nossos produtores rurais, as saúvas não são mais uma ameaça ao campo brasileiro, cuja produtividade e qualidade atemoriza hoje os protecionistas de sua França natal. Entretanto, as saúvas migraram de setor e seguem proliferando em nosso mercado financeiro.

 

Apenas em dois países do mundo, no Brasil e na conturbada Turquia – cujo mercado é quase apenas um terço do nosso –, é possível a uma pessoa receber mensalmente cerca de cem mil unidades monetárias (ou cerca de 100 mil reais, no nosso caso), acima da inflação, para cada dez milhões de unidades monetárias (ou 10 milhões de reais, no nosso caso) que ela deixar paradas, sem risco nenhum, investidas num título atrelado à taxa básica estipulada pela autoridade monetária. É um escarnio isso ser chamado de investimento.

 

Caso não caduque, caberá ao Brasil e ao Mercosul agir da forma mais diligente possível para não deixar que o acordo seja praticado, pura e simplesmente, da forma como está escrito. Pelas regras de transição, o Brasil precisará de governos altamente estratégicos e capacitados nos próximos 15 anos a fim de não entrar numa fria, principalmente com relação à sua indústria e a seus recursos minerais. Resta considerar se vale a pena avançar para que o acordo, mais vantajoso para a UE, seja assinado, internalizado e ratificado.

 

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No entanto, ainda que não tenha sido nesse acordo que a parte menos desenvolvida se deu bem, quem sabe ele abra janelas num Mercosul tão amarfanhado? Afinal, abrir janelas, mesmo que pequenas, traz sempre uma oportunidade de renovar o ar e enxergar oportunidades antes invisíveis.

 

Que tenhamos um feliz Ano Novo.

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