Muita gente ainda se lembra da saudação do candidato Eymael, em corridas presidenciais passadas, quando tentava usar seus poucos segundos de propaganda eleitoral na TV, ao arregalar os olhos e fitando o vídeo, com a advertência emitida em tom solene: “Sinais! Fortes sinais!”. Ninguém sabia bem a que sinais o candidato se referia. A mensagem estava toda contida na própria exclamação. Há situações na conjuntura brasileira e mundial que, hoje, nos demandam tanta atenção quanto o alerta solene de Eymael. Há fortes sinais à nossa espreita, tanto no cenário interno, quanto no internacional.
No Brasil, poucos analistas políticos discordarão de que houve notável reposicionamento das forças políticas. As eleições, embora locais, não deixaram dúvidas sobre por onde passa a nova governabilidade do país que, por sinal, de nova não tem quase nada. No topo da estrutura de mando, está a Centríssima Trindade – formada por PSD, MDB e PL – nem sempre nessa mesma ordem. Logo vem o segundo pelotão, formado pelo PP, União Brasil e Republicanos. Todos à direita do centro. A antiga dupla “manda-chuva”, de esquerda e centro-esquerda, que comandou a política nacional, alternadamente, no período de trinta anos do Plano Real, formada por PT e PSDB, recuou agora a um terceiro pelotão de agrupamentos políticos, onde outra sigla, o PSB surge como único emergente e moderado centro-esquerda, se tanto. Mais abaixo, na pirâmide partidária, entre os pequenos partidos, os destaques de crescimento político estão mais à direita (Novo, Podemos e Avante) enquanto os de esquerda tendem a mergulhar.
A conclusão inevitável é que a corrida presidencial de 2026 foi antecipada, deixando a atual administração Lula com escassos recursos políticos para manter seu protagonismo em 2025. Na economia, fortes sinais também emitem alertas: a inflação de alimentos e de vários tipos de energia (elétrica e de combustíveis) provoca, em reação, nova rodada de alta de juros pelo Banco Central. Mas os piores sinais vêm da cabeça dos mercados, que aplicaram um voto de desconfiança à equipe liderada pelo afável ministro Haddad.
A desconfiança é algo etéreo. Porém, o mercado, desconfiado das autoridades, passou a cobrar juros na lua (ver quadro) incompatíveis com qualquer estabilidade projetada das contas públicas. Os encargos de juros que enfrentaremos, neste e no próximo ano, de quase R$1 trilhão em cada exercício, são um completo disparate. Nenhum país resiste a pagar juros em patamar que consome o equivalente a quase toda despesa anual da sua previdência social, aliás outra conta gigantesca, apesar da promessa feita no governo Bolsonaro de que a questão do financiamento do INSS estaria finalmente equacionada.
O descontrole fiscal brasileiro já não traz apenas fortes sinais de fim de festa. São evidências gritantes de um descalabro financeiro brutal, escamoteado das vistas da população durante as décadas do real, em que a despesa pública sempre cresceu em ritmo muito superior às rendas e ao PIB dos contribuintes dessa amarga fatura. E cuja conta não será amenizada pela atual reforma tributária em curso – até pelo contrário – nem, muito menos, pela canhestra política de juros na lua adotada defensivamente pelo Banco Central. Este último recurso, às vezes apoiado por muitos colegas economistas com o argumento negativo de que “nada mais se pode fazer” é outro sinal da penúria de planejamento em Brasília e da falta de uma agenda consistente de governo.
Se a atual gestão pública federal se conforma em pagar um trilhão de reais de juros, ano após ano, sem logo apertar o botão de emergência e soar todos os alarmes na cabine de comando, é porque, mesmo com boa vontade, não faz sequer ideia de por onde ruma a nau dos insensatos desta República.
Não bastassem os presságios daqui, do exterior nos chegam os sinais, ainda confusos, de que algo muito perigoso acontece na cena política mundial. Quando um cidadão normalmente cauteloso com palavras, como é Jamie Dimon, até por presidir um banco do porte do J.P. Morgan, revela em público que “uma terceira guerra mundial” está a caminho, isso em meio à decisiva eleição presidencial americana nos próximos dias, não podemos deixar de por a mão na cabeça e matutar em que enrascada a humanidade inteira está se metendo.
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Bombas invisíveis já explodem sobre a fragilizada economia brasileira. E vêm encapadas pelo sinal do câmbio, pela derrapada do Real este ano, frente às moedas de nossos parceiros. O sinal do câmbio se traduz por perda de poder aquisitivo da população, o fim da prometida picanha com chope no fim de semana, que ficou apenas como lembrança das frustradas promessas de campanha de um governo em acelerado processo de fenecimento. Fortes sinais!