“Todos os anos/ Alçamos um novo/ A cada ano somos/ Nos versos/ Diversos/ Afins ou pouco, do mundo da vida/ Vivos estamos./// Ouvi de gente sábia/ Que nem o passado nem o futuro/ Existem/ Temos nas mãos o presente/ Que muda a todo instante/ E cada respiro/ Não é.”
Este poema de Sandra Viola, psicanalista e poeta, caiu bem para o último dia do ano. Faz lembrar que o tempo é o contínuo imperativo do que em um minuto se esvai e já não é. Em cada respirada! Para lidar com ele, criamos uma forma de contá-lo, controlá-lo ou de apenas tentar. Tentar o impossível. O calendário ajuda, mas não resolve...
A passagem de cada ano nos permite fazer balanços de como estamos, se regredimos ou progredimos quanto a nossos sonhos, desejos e atos. É uma dessas formas de saber e nos dar conta de onde nos levaram nossas escolhas, do que fizemos, do que construímos ou não com a vida que recebemos pela vontade do outro, e o que fizemos dela, com nossa autonomia, no transcorrer do tempo vivido.
Os lucros e prejuízos são nossos medidores e nos ensinam a valorizar o que temos em mãos agora: cuidar melhor das escolhas. Nunca deixar para depois o que deve se decidir logo. Escutar nosso pensamento, as ideias correm e deixamos que escapem, geralmente arrependemos de não escutar a voz da consciência, ou será da inconsciência...
Escolher pelo desejo e não pelas vontades imediatas que, após satisfeitas, não significam nada mais que gozo supérfluo. Conscientes de que o que temos é o momento presente quando fazemos nossas apostas. Oh, dúvida cruel! São escolhas sempre sem garantias de ganhar ou perder. Sem elas, nem um passo. Impasse.
A escolha é no presente, porque o passado foi e o futuro não chegou. Muitas vezes, não aproveitamos o agora bem o bastante só porque ao apostarmos em uma coisa, perdemos todas as demais. Não se pode ter tudo. Existem cálculos de ganhos e perdas e o real que sempre surge nos surpreendendo ou nos contrariando. Exata, só a matemática.
Ansiosos, sempre cheios de expectativas, prospectamos perigos invisíveis, que provavelmente nunca se realizarão como imaginados, sem perceber que só podemos estar contentes quando há prazer presente.
O poema aponta para a passagem do tempo que nos escapa, cada minuto já não é mais o mesmo, a cada minuto realizamos um prejuízo real, constante, inevitável. Com desejo, pelo menos nossa breve passagem por aqui vale a pena.
Não digo prazer todo o tempo, mas estar contente com outro tipo de vínculo, como sugere Caetano quando canta o tempo como um soberano deus, diante do qual “não serei nem terás sido”.