Entre o instinto dos animais e as pulsões, como costumamos chamar o movimento de uma força que, saindo do corpo, busca objetos que a atraem no mundo, retornando ao corpo depois de contornar os objetos, porque não se apropria deles, existe uma grande distância.

Nos animais, os instintos são assertivos. Eles respondem integralmente pela atividade sexual, em prol da reprodução da espécie. E eles nascem com um saber sobre o que precisam para viver e ficam satisfeitos.

Imaginem que, por um tempo, a Igreja Católica defendia a norma de que os homens restringissem as relações sexuais à reprodução. É a prova da tentativa de reprimir o gozo e o prazer, mas, ao mesmo tempo, sabendo e temendo sua força. É que o ser humano é ser de gozo.



Difícil abrir mão do corpo e de seu chamado. Assim como foi ingênuo e equivocado proibir o uso de preservativos, o que causou uma revolta muito grande nos anos 1980, tempos da Aids.

No ser humano, a atividade sexual é estritamente vinculada ao prazer e ao gozo. Não encontramos uma lei ou explicação ou mesmo regras que forneçam uma explicação satisfatória sobre a atração nos seres humanos. Ela é uma força significativa para além da reprodução da espécie, como nos animais.

Disse Freud que somos atraídos por um brilho na ponta do nariz, referindo-se à aleatoriedade da atração humana. Isto que dizer que há um real inominável para descrever o sexo, o gozo e aquilo que nos atrai.

A sexualidade atravessa nossa vida desde crianças pequenas e a curiosidade infantil nos torna pequenos pesquisadores e construtores de teorias para preencher o vazio do saber sobre o mundo, a vida, o sexo. A frequente pergunta “de onde vêm os bebês?” mostra claramente o grande interesse e a curiosidade em desvendar o mistério da vida.

E a explicação da cegonha nem sempre consegue satisfazer, ou quase nunca. Logo desconfiamos que os bebês vêm mesmo daquela barrigona da mamãe ou supõe-se logo: do hospital!

Na vida coletiva, as criações da cultura são um destino sublimado das pulsões sexuais, ou construtivas. E elas também servem para refrear o gozo, porque todo prazer serve para refrear o gozo, entendido como um excesso, que nunca deve ser total sob risco de enlouquecer. Um dos modos nobres de realizar as pulsões é a sublimação, por exemplo, transformando-as em obras, artes, instituições sociais e culturais, etc.

Algumas manifestações culturais, como carnaval e futebol, paixões brasileiras, são formas de extravasar e satisfazer as pulsões sexuais e agressivas.

O carnaval, o nome já diz, é a festa da carne. Suspendemos temporariamente as repressões, botando o bloco na rua com nossa melhor fantasia, que, nestes dias, pode se realizar abertamente, sem pudores, porque há permissão social.

Já no futebol podemos soltar nossa fúria, xingando o outro, o inimigo encarnado, soltando as feras. E, às vezes, as pessoas extrapolam e partem para a violência, muitos se eximem da responsabilidade individual quando anônimos no meio da turba. Disse Freud...

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