A passagem do tempo é uma perda constante que não podemos evitar. Nem as melhores estratégias de cuidados com o corpo, com a pele, com a saúde física e mental, que podem adiar a degradação do corpo, mudam o terrível e temido “prazo de validade”. Cada um com o seu. A finitude é nossa única certeza.
Muitas atrizes e mulheres maduras ou idosas fazem hoje campanhas contra o preconceito que as pessoas mais velhas sofrem. A maturidade e toda experiência adquirida na vida, a formação profissional são desmerecidas, uma vez que a beleza e juventude são os ideais cultuados em nossa cultura. Que pena...
E o fato inevitável de envelhecer, com exceção da morte precoce, parece ser penetrar em uma zona de invisibilidade. E é um contrassenso porque, quanto mais vividas, mais as pessoas se conhecem e se tranquilizam em relação aos seus próprios desejos e aptidões.
Se nos séculos passados éramos velhos aos 60, hoje temos um prolongamento da vida graças à ciência, à medicina e ao desenvolvimento de estudos com medicações de última geração, suplementos vitamínicos, exercício físicos que prolongam a vitalidade do corpo e da mente, a saúde e a capacidade laborativa das pessoas como consequência.
Uma coisa nos deixa perplexos sempre: o invisível passar do tempo. E não apenas percebido em idade avançada, muitos jovens relatam o sentimento de se surpreenderem ao entrar na adolescência e perceberem que já devem fazer escolhas sobre o futuro. Sentem-se ainda imaturos. Verdade, porém, escolhas são difíceis em qualquer idade. Escolher uma coisa é também perder as demais. É duro lidar com perdas.
A passagem do tempo nos faz pensar, nos dá uma sensação surreal. O tempo voa, e a gente não percebe, e, quando nos damos conta, já se passaram 10, 15, 40 anos e tudo parece ter passado muito rápido. Olhando para trás, sentimos uma sensação de irrealidade. Como se passou tanto tempo e tão rápido!
Muitos afirmam que o corpo envelhece, porém não se sentem com a idade que têm. Curioso o tempo. Escoa permanentemente, sem que sintamos a perda incessante. Mais um dia que vivemos é ao mesmo tempo menos um. Perda constante que o real nos impõe e diante da qual somos impotentes. Nada mudará este fato.
Por isto, quando pensava sobre o tempo me caiu bem receber de presente o recente poema de Elisa Lucinda (janeiro de 2024).
Madura impaciência:
Não aguento mais gente nascida/
na minha geração monotematicamente
perturbando minha mente:
“Porque no nosso tempo...”
Ora, nosso tempo é o carai!
Vivi meus dias até aqui,
o meu tempo é hoje.
Não tem essa de passado como prisão.
Ou o que passou é estrutura de terra plantada e vivida.,
é semente viva da liberdade de agora,
nesta altura da extensa lavoura da estrada.
ou então não é nada!
Por conta de inúteis nostalgias,
certas epifanias do presente nos fogem.
Felizmente,
A maturidade tem me tornado mais jovem.