A civilização é uma constante insistência em nos tornarmos melhores e nos protegermos coletivamente. Mas seus efeitos nos mostram a impossibilidade de controlar o real e alcançar plenamente tal objetivo.
Os sacrifícios que fazemos para tornar possível a convivência se traduzem em mal-estar devido à repressão de instintos agressivos e sexuais.

 

São décadas de luta pelo reconhecimento dos direitos civis das mulheres e da igualdade salarial, tanto quanto da liberdade sexual pós-pílula anticoncepcional e pós-revolução industrial, quando elas ingressaram no mercado de trabalho. Com mais direitos, porém ainda sofrendo violências.

 


Há quase um século e meio da abolição da escravatura e ainda às voltas com o racismo, apesar de medidas educativas e reparadoras contra o preconceito, os pretos ainda são tratados por muitos como se seu lugar fosse a senzala.

 

Desde Stonewall, em 1969, revolta deflagrada em Nova York em resposta ao preconceito e à violência da polícia e da sociedade civil contra o amor homossexual, os gays saíram do armário, assumiram a palavra e ganharam as ruas promovendo o orgulho de serem quem são. Paradas criadas por eles são realizadas em diversas cidades. Ainda assim, há preconceito e violência contra a população LGBTQIA+.

 



 


A crescente busca de legitimidade dos transexuais pelo direito a seu modo de gozo, ao trabalho, ao respeito e ao reconhecimento pela sociedade, herdeira do patriarcado colonial que tanta violência gerou, aponta que ainda há muito a se fazer.

 

Tanto trabalho pela inclusão das diferenças e ainda nos vemos falhando em suportá-las. Nem nestes tempos de legitimação dos direitos termina a discriminação. Nunca teremos plenitude, apenas resultados parciais, como nos mostra a realidade.

 

Há algum tempo, os olhares se voltaram para os homens cis heteronormativos. Eles merecem um lugar em nossas preocupações sociológicas e psicanalíticas por sua performance na civilização. Uma cultura que hoje se admite mais feminina permite um gozo Outro, desejando-se mais humana, tolerante, atraente.

 

O que dizer dos homens ainda em grande parte sustentados pelo falocentrismo – forma social na qual, infelizmente, é comum vincular falo e pênis à suposição de naturalidade discriminatória e opressora?

 


Falo é o nome freudiano das insígnias culturais da atribuição de poder – e não apenas do órgão sexual masculino. Aponta para o modo de vida e gozo. Precisamos repensar a crença de que ser macho é sustentar emblemas de virilidade e potência, de estar sempre pronto, obsessivamente potente, sem contar com as falhas que naturalmente acontecem e desestabilizam o mundo daquele que se quer totalmente macho.

 

Essa virilidade de aparência e a enfatuação da obrigatoriedade de um poder e uma totalidade pelo temor da feminização servem para encobrir que somos seres de falta. Isso vale para homens e mulheres.

 

Vinícius Lima, no recém-lançado livro “Homens em análise. Travessias da virilidade” (Blucher, 2024), publica o tema de sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais com belíssima introdução de Marcus André Vieira e posfácio do orientador Gilson Iannini.

 

Aborda o poder pesado, uma opressão viril que não oprime somente mulheres, mas também homens, com a rigidez cadavérica engessando relações, tornando-os impermeáveis às delicadezas, ao perfume das flores, aos amores femininos e até mesmo à condição de aceitar perdas sem sentir vacilar sua virilidade e macheza.

 

“Homens em análise” é um livro contemporâneo, indispensável a quem se interessa em compreender a sexualidade humana.

 

“HOMENS EM ANÁLISE. TRAVESSIAS DA VIRILIDADE”


. Livro de Vinícius Lima
. Editora Blucher
. 416 páginas
. R$ 145

 

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