Recém-lançado pela Autêntica Editora, o primeiro volume da série “Freud no século XXI”,de Gilson Iannini. Leitura que interessa a psicanalistas e simpatizantes atentos ao contemporâneo e onde as inquietações do autor, somada às nossas, dialogam com a urgência em revisitar Freud.


Gilson Iannini é psicanalista, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e seu extenso currículo demonstra seu constante empenho em uma psicanálise viva, pulsante.


Doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em filosofia pela UFMG e em psicanálise pela Universidade de Paris VIII. Como editor, publicou mais de 90 livros nas coleções Filô e Obras Incompletas de Sigmund Freud. Autor de “Estilo e verdade em Jacques Lacan” (2012), todos estes pela Autêntica, e coautor com “Christian Dunker em ciência pouca é bobagem: porque a psicanálise não é pseudociência”(Ubu,2023)

 




O novo livro trata, nas palavras do próprio Iannini, de arejar nosso jeito de ler Freud, mesmo que tudo em volta conspire contra, de encontrar na letra de Freud a força inigualável que nela transborda, o coração infamiliar que nele pulsa. O livro é um esforço de ler, corpo a corpo, com e a partir do corpo, um Freud para o século 21.


Mais que reflexão e um questionamento é uma aposta no que há ainda por ser lido para além das famosas frases grifadas por muitos de nós, leitores contumazes. O que há ainda para se ressaltar entre nossos grifos à luz do inconsciente real do final do ensino de Lacan?


Iannini convida o século 21 a receber Freud, depois de anunciadas suas tantas mortes, com um olhar lançado para o futuro da psicanálise através do tempo e de todas as transformações pelas quais passamos desde o século passado.

 


Atravessamos duas grandes guerras, a bomba atômica, o nazismo; nos anos 1950, a primeira transmissão pela televisão. O homem alcançou a Lua em preto e branco, depois veio a TV em cores e agora em HD. Do telégrafo ao celular. A grande revolução da Internet.


Nascemos, muitos de nós, no mundo analógico e vivemos na era digital, da inteligência artificial. Muita informação, evolução das ciências, o advento do capitalismo. Mudanças em dimensões maiores do que em todos os tempos e não sem consequências sociais e nos comportamentos. Gilson propõe um retorno a Freud à altura da subjetividade de nossa época. Dos corpos que nos falam, que são outros, dos sintomas que são outros, das novas configurações do laço social, outras temporalidades.


Ressalta o interesse da psicanálise em outros campos, êxtimos, palavra que conjuga o externo, o distante, desprezado e desdenhado onde encontraremos justo o que interessa, objeto ao mesmo tempo causa de desejo e mais gozar.

 


A proposta é que a psicanálise do século 21 seja reinventada a cada vez que alguém vem nos falar de si, do que nem sabe de si, e que a escuta de um analista alcança o que há de mais singular ali.


Que a psicanálise do século 21 realize o que sempre foi seu destino: ser o lugar em que os corpos silenciados podem falar em nome próprio. Ela será uma nuvem de vagalumes no século da necropolítica. Mas para saber um pouco mais sobre isso teremos de esperar pelo próximo volume. Por enquanto, desfrutemos do que este tem a nos oferecer, e não é pouco.

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