Filhos não são como uma encomenda que uma mãe escolhe conforme o seu agrado -  (crédito: PIXABAY/REPRODUÇÃO)

Filhos não são como uma encomenda que uma mãe escolhe conforme o seu agrado

crédito: PIXABAY/REPRODUÇÃO

 

As redes sociais no Dia das Mães bombaram. Zilhões de mensagens esperadas, afinal somos todos filhos. E, muitas de nós, mães. Portanto, neste dia, expressamos os melhores sentimentos e homenagens àquela que nos deu à luz.

 


E não apenas nos pariu, foi além, nos adotou e amparou. Nem todas puderam manter consigo a sua cria. Mas aquelas que as acolheram e as aqueceram com o calor de seu corpo, as amamentaram, falaram com elas, transmitindo a linguagem, as humanizou. A linguagem humaniza.

 


Enfim, assumiram a maternidade e padeceram no paraíso, dizem. Mas o que isso quer dizer? Quer dizer que ser mãe não é fácil, pois implica em assumir o cuidado e a responsabilidade de um ser indefeso, prematuro, que ainda dependerá dela por muitos anos, antes de se tornar um adulto independente.

 


As mensagens eram afetivas e emocionadas nos lembrando os melhores momentos desta relação da vida toda. A hora é de festejar e comemorar tudo que recebemos para ser o que somos, e o resultado de todo esse cuidado que nos fez crescer.

 


Lendo os conteúdos das postagens, parece que as coisas correram sempre de modo ideal. A maternidade é uma relação sacralizada. E de repente a gente esquece os momentos difíceis e se lembra só da parte boa.

 


Mas quem é mãe, tanto para quem é filho, sabe que as mães não são perfeitas, são de carne e osso e muitas vezes estavam exaustas, sobrecarregadas e até impacientes. Quando nasce um filho, nasce uma mãe e uma culpa. Uma cobrança de quem sabe que não pode realizar os sonhos e todas as vontades, nem as suas, nem as dos filhos.

 


Sem dúvida um olhar determina o lugar da criança. Olhar que expressa o que se deseja para ela e que é também, como um espelho, reflete a imagem do seu corpo. Desde bebê, no olhar da mãe, a criança se reconhece de corpo inteiro e esse momento é de júbilo porque ele assimila ser ele próprio ali na imagem.


Filhos não são uma encomenda que escolhemos conforme nosso agrado. São muito mais pessoas que crescendo nos surpreende e ao longo dos anos vamos conhecendo e entendendo. Eles não são o que se espera.


E como filhos, muitas vezes precisamos, para afirmar quem somos, decepcionar expectativas e o desejo de nossos pais. Precisamos contrariar o que planejaram para nosso futuro. Porque esse futuro quem decide é o próprio sujeito. Sendo outra pessoa nunca poderá viver para realizar sonhos alheios. O que para muitos pais é difícil de aceitar e para os filhos é difícil de praticar. Assumir o próprio desejo é um ato que implica numa separação.

 


Ou não seria possível para nenhum de nós filhos ter vida própria e aprender a viver segundo nosso desejo. Nem os pais podem tudo e nem os filhos, somos pessoas comuns e limitadas que não têm resposta para tudo.


Embora saibamos das dificuldades atravessadas por todas as mães e filhos desde o nascimento até a vida adulta – e mesmo depois que cada filho, tendo conquistado sua independência, saia da família de origem para viver a própria vida, formar seu núcleo familiar ou mesmo uma produção independente –, quando a relação foi minimamente satisfatória, guardamos carinho e respeito. E também algumas mágoas e arrependimentos, mas a vida é isso... Saber superar.


Não importa como nasce cada filho, quando nasce um filho, nasce uma mãe. E cada filho experimentará emoções, dificuldades e alegrias. Portanto, é justo que celebremos também o dia em que ganhamos a vida.