A psicanálise é uma ética muito interessante, mais do que isto, é poderosa e capaz de, através da escuta das palavras, uma escuta verdadeira do sentido e ressonância das palavras, fazer uma rotação radical na direção do pensamento. Muitas vezes, o sentido se desdobra e outra lógica pode ser compreendida.

 


Assim, quando se dá livre curso ao pensamento, o que muitas vezes parece tagarelice boba, de repente surge no meio da fala alguma coisa que nos faz entender um determinismo aí: alguma coisa que cola, do inconsciente, pula do blá-blá-blá.

 

 



 


É como se, com um dito, acendêssemos uma luz e abríssemos um entendimento novo e, sinceramente, é bonito. Freud conta que uma criança que dormia com a tia pedia a ela para falar quando apagava a luz. Ela responde com uma pergunta: mas de que adianta eu falar se você não pode me ver? Ao que a criança responde: é que quando você fala parece que a luz acende.

 


Nada como a voz humana para acalentar, acolher, ensinar, abraçar, estimular, mandar parar e tudo mais que nos permite ser humanos e nos entendermos e desentendermos. Vale dizer que a palavra nos humaniza, nos permite formar laços, construir a civilização e até fazer guerra. Não se pode diminuir a importância dela ou minimizar sua influência e poder.

 


Todos sabemos isso, mas não parece tão claro durante nossas tantas falas porque não prestamos atenção e jogamos conversa fora. Faz parte. Mas, para os que param para escutar, muito coelho sai da cartola, e chegamos a pensar se é alguma mágica.

 


Não, absolutamente, nada de mágica e muito de lógica, basta estar de orelhas em pé para escutarmos muito mais do que se fala. Porque o que se diz fica escondido no que se fala.

 

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Se existe mesmo um inconsciente, é aí que ficam escondidos nossos maiores tesouros. E fazer análise nos faz caçadores de tesouros escondidos que devem ser encontrados no fundo do mar de palavras ou enterrados nos recônditos cantinhos da alma.

 


O inconsciente guarda um saber. E desse saber não sabemos nada e, talvez, no máximo desconfiamos, mas não lhe damos a atenção devida. É um pensamento fugaz que passa correndo na mente, tipo o coelho de Alice no País das Maravilhas, que vai correndo e falando sem parar.

 


O caminho é de coragem, o resultado compensa, as pessoas rompem prisões imaginárias, angústias, sintomas. Não são sintomas como os da medicina, mas modos de se relacionar com a própria vida e as outras pessoas, que são causa de sofrimento, frustração e auto sabotagem.

 


Também perdem idealizações e ilusões sustentadas. Perdê-las amedronta como se se perdesse a identidade. O sofrimento gruda numa fruição masoquista.

 


Outro dia mesmo alguém disse estar melhor por não desesperar como antes, superando obstáculos e problemas de outro jeito. Concluímos escutando este outro jeito: dividindo a palavra escuta-se des-esperar. A melhora se deu por deixar para trás a expectativa, a espera, a demanda de reciprocidade e complementaridade no outro. Um grande avanço na vida é soltar a espera e ir com o que se tem, mesmo se forem faltas. Daí vem uma invenção.

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